De todas as que integravam o nosso jovem grupo de amigos, era ela, como se costumava chamar nessa época, a mais dada, sem que entre nós atribuíssemos a essa designação qualquer carga prejorativa, pelo contrário.
Para tal, em muito contribuíra a fama que granjeara aos 12/13 anos de ter nos ter iniciado a todos na arte de beijar. E todos nós intimamente concordávamos que era inigualável a suavidade daqueles lábios de veludo a saber a morangos e manteiga fresca.
A sua liberdade mental inata, contrastava com a contenção das outras amigas – e mesmo um ou outro rapaz - , e por vezes, tornava-a alvo de algumas invejas e ciúmes. E no entanto, toda a gente gostava verdadeiramente dela. Especialmente o Julião, que foi o seu primeiro namorado, na real e total aceção da palavra.
Curiosamente, fui eu a primeira testemunha do consolidar da relação de ambos e da forma mais intensa possível.
Éramos uns 8, todos entre os 15 e os 17 anos. Saíramos depois do almoço, e após de uns 2 km a pé por caminhos de cabras, ali estava a nossa ribeira, fresca e saltitante, à espera dos nossos mergulhos tão apetecidos naqueles escaldantes dias de Agosto.
Contudo, naquele dia a minha disposição não era a melhor. Parecia que me excedera ao almoço e o estômago pesava-me. Assim sendo, pousei o saco com o lanche e os calções de banho ao lado de um dos grandes salgueiros que tombavam sobre a ribeira, arranjei um seixo grande e muito redondo que me serviria de almofada, e deitei-me com a firme intenção de ler o livro que levara – nunca mais me esqueci que era o meu primeiro livro da Agatha Christie que – mas a soneira levou a melhor, e fiquei assim amodorrado, ora de olhos fechados, ora entreabertos.
Passados uns minutos, apercebi-me de algum movimento junto a um dos salgueiros próximos. Com esforço, abri um pouco mais os olhos, e vi que o Julião se deitava à sombra da grande árvore enquanto a Carolina se ajeitava ao lado dele, apoiada no cotovelo direito com a cabeça apoiada na mão, enquanto a esquerda ia acariciando o rosto e o peito nu do rapaz. Pouco depois, começou a beijá-lo, correspondendo ele, a princípio constrangido – afinal, não estavam sós – mas aos poucos, foi perdendo a inibição e agarrou-se a ela sofregamente.
Nesta altura, quem já estava constrangido era eu, sentia bem as faces a arder, queria desviar os olhos, mas a minha faceta de voyeur, a minha curiosidade ou excitação adolescente, levou a melhor.
E a situação foi tomando outras proporções quando a rapariga o empurrou e sem qualquer tipo de vergonha, passou uma das pernas sobre os quadris dele, ficando soerguida sobre o rapaz, apoiada nos joelhos. Debruçou-se sobre ele, empurrou-lhe ligeiramente a cabeça para trás, e começou a beijá-lo no pescoço, o que o deixou visivelmente excitado.
Ele endireitou-se um pouco, puxou-lhe as alças do vestido para os lados, e ali ficou ela, imponente na sua beleza, as pequenas mamas rosadas, turgidas e erectas, uma visão do paraíso como eu o imaginava.
E então, ela meteu uma das mãos sob o vestido, numa manobra que demorou uns segundos, e que, a princípio não percebi, santa ingenuidade. Retirou a mão, e os quadris dela começaram a descer muito lentamente sobre os dele, ao mesmo tempo que as faces de ambos ia acerejando e o pescoço dele se arqueava. Depois, ela voltou a levantar as ancas muito lentamente e a descê-las uma outra vez, e assim por várias vezes. E o corpo dele movia-se ao ritmo do dela, devagar, delicadamente. Não estava muito perto, mas ainda assim ouvia-lhes os gemidos abafados.
A contenção não durou muito, pois breve os dois se abraçaram e ambos os corpos se movimentaram convulsamente durante uns segundos até que se sossegaram, ela sobre ele, como se ambos tivessem morrido abraçados um ao outro.
Pouco depois, ela saiu de cima dele as bochechas ainda afogueadas, compôs o vestido e sorriu-lhe. Olhou para o sítio onde eu estava, e eu, envergonhado, fingi que dormia.
Vi-os erguerem-se e o Julião parecia hipnotizado, olhos vidrados fixos no horizonte como se não estivesse bem certo sobre o que verdadeiramente lhe tinha acabado de acontecer, um sorriso parvo nos lábios e nem notou o pequeno derrame sanguíneo que lhe manchava as calças mesmo junto à união das pernas.
Ela, conduzindo-o pela mão, saltitante, uma cara feliz, um sorriso travesso como só ela tinha.
Travesso. É essa a palavra. Parecia que tinha acabado de praticar uma traquinice sem que ninguém soubesse.
Para mim, pareceu-me mais tarde, que na altura, tinha assistido ao meu primeiro e mais belo filme erótico. E embora com uma pontinha de inveja, fiquei feliz por eles
(continua)