domingo, 15 de agosto de 2010

As Capas de Álbum do Meu Contentamento (1) - Moby Grape/1968

Saídos do grande movimento que teve o seu epicentro em San Francisco em meados dos anos 60, os Moby Grape viram os oráculos de então apresentarem-nos como a “next big thing” do panorama musical americano, ainda na ressaca da British Invasion.
Era um grupo bastante versátil, mas poder-se-á dizer que o seu estilo cabia bem dentro do chamado country-rock, alinhando ao lado de grupos como os Quicksilver Messenger Service, ou os Lovin’ Spoonful, embora sejam inegáveis algumas influências psicadélicas, o que não será de estranhar se tivermos em atenção que a banda foi formada à volta de Skip Spence, o 1º baterista dos Jefferson Airplane, uma das primeiras e mais importantes referências desse movimento.
Contudo, e voltando à questão da "next big thing", a verdade é que a realidade anda muitas vezes longe das previsões dos “entendidos”, e a vida dos Moby foi relativamente curta - 3/4 anos - e de êxito muito relativo, culpa, diz-se, de muitas más decisões conjuntas e de algumas atitudes pessoais reprováveis.
Intocável é porém, o manifesto cuidado e bom gosto, postos pelos responsáveis, na produção gráfica dos vários LP’s que o grupo lançou enquanto durou.
A capa que hoje aqui se apresenta, é a do 3º longa duração do grupo, Wow/Grape Jam (um duplo álbum que curiosamente foi posto à venda ao preço de um LP normal) editado pela Sundazed/Columbia em 1968, e é da autoria de Bob Cato, um reputado designer pertencente aos quadros da Columbia, e que trabalhou com vários nomes notáveis da cena musical norte-americana, como Bob Dylan, Barbara Streisand, Miles Davis ou Janis Joplin.

sábado, 14 de agosto de 2010

Filmes (1) - Os Óscares que aí vêm

Tenho para mim que quem se interessa por cinema, e à medida que vai vendo as novidades cinematográficas, manterá todos os anos alguma expectativa em relação aos filmes que, no ano seguinte, serão nomeados para o Óscar. Por mim, penso que por estes tempos, será uma espécie de prazer mórbido, aquele que nos move.
A verdade é que, principalmente nos últimos anos, têm sido tão erráticas as opções da Academia, que há sempre aquela perguntinha que nos assalta: “Será que é desta que acertam?”. Também é verdade que o facto de não concordarmos com o filme escolhido, não faz com que aquele que vence seja pior. Admito perfeitamente a diferença de opinião quando se avaliam duas coisas de potencial semelhante. O que já não me parece muito lógico é sequer nomearem-se filmes sem qualquer interesse para um cinéfilo - como aconteceu quando nomearam Avatar como candidato ao Óscar para o melhor filme - sendo que pior é quando ganham, como foi o caso de Slumdog Millionaire, em 2008.
A nomeação já me pareceu disparatada. O facto de vencer, quando estavam também nomeados filmes com a importância de “O Curioso Caso de Benjamin Button”, “Frost/Nixon” ou mesmo “Milk” (que não apreciei pessoalmente, mas que concedo ser um bom filme), é, na minha opinião, não só uma decisão absurda, como me parece conter em si mesma uma atitude paternalista um bocado imbecil.
Por cá, quando se chega á altura da cerimónia, é curioso verificarmos que alguns dos filmes nomeados ainda não passaram - alguns, em anos anteriores, creio mesmo só terem vindo posteriormente directos para os clubes de vídeo, o que com o desaparecimento recente do Blockbuster, vem pôr outro problema a quem se interessa por cinema, que é o de a partir de agora, ter que abrir os cordões à bolsa e comprar os filmes, se os quiser ver - e o que até agora apareceu, não é muito auspicioso. Dois ou três filmes interessantes, e pouco mais. Mas como ainda falta a época alta, a começar em Outubro…
De qualquer forma, suspeito que, se no ano passado foi nomeado Up, o mais certo é este ano não falhar a nomeação de Shreck IV. O que me parece muito mais saudável, do que um daqueles enjoativos filmes de vampiros, ou qualquer coisa toxicamente tecnológico e cheio de efeitos especiais, como o Avatar.
Uma aposta minha vai para o recente “The Expendables”. Afinal, é produzido pelo grande Sylvester Stallone (sim, grande. Que ainda não me esqueci que o homem já ganhou um Óscar!), e reúne a nata dos “heróis” de Hollywood e não só.
Cheira-me a que é muito mau, mas pelo menos, temos acção garantida.

sexta-feira, 13 de agosto de 2010

quinta-feira, 12 de agosto de 2010

domingo, 8 de agosto de 2010

A Roda do Tempo (1) - As Velhas Tabernas

A leitura da Time-Out desta semana levou-me de volta ao Sudoeste donde cheguei há uns dias. Mas fui ao engano. Falavam eles de 10 razões para ir ao Sudoeste, e pensei logo que uma delas, seria o arroz de marisco - ou mesmo só o marisco, fresquíssimo, desde o inacreditavelmente barato percebes, á incomparável amêijoa - do Azenha do Mar, da D. Alzira, mesmo chegado ao Brejão e à praia do Carvalhal. Mas…desilusão. O 1º “prato” que me serviam era o intragável Mika mais a sua voz pimba, que mais pimba não há.
Mas recompus-me e logo a seguir fiz as pazes com a publicaçãozinha quando ela me forneceu alibi para um dos meus “pecados”, que é não ter conseguido até hoje, ler o “Ulisses”. Pois é, parece que não sou só eu. Partilho a fraqueza com, pelo menos, José Luís Peixoto, Miguel Sousa Tavares, José Mário Silva ou Inês Pedrosa, tudo nomes ilustres das nossas letras, o que, para mim, significa simplesmente que afinal só lêem o Ulisses pessoas desprovidas de sistema lógico de raciocínio, ou seja, perfeitos idiotas se dão ao trabalho de ler a obtusa obra de James Joyce.
Como se sabe, a Time-Out é já uma referência pelas indicações preciosas que dá, e, curiosamente, neste número fala de uma das casas de comes mais faladas da zona onde moro, o Chá da Lapa, talvez só superado em fama pelos pastéis de nata da Cristal ou pelo Chef, da Borges Carneiro, onde se comem as melhores empadas de galinha de Lisboa, ao mesmo tempo que se pode tropeçar com algum famoso, ou pretendente a tal, o que não me é muito apelativo, eu que sou um orgulhoso anónimo e sem pretensões a alpinista social. Portanto, passo geralmente ao largo. A não ser quando me apetecem mesmo as tais empadas. Ou uma chamuça.
E geralmente passo ao largo, passeando a minha fiel amiga, ao mesmo tempo que ouço em podcast episódios atrasados do Governo Sombra - aí está mais um elo que me liga ao Time-Out - que não tive oportunidade de ouvir na altura devida, mas que é um daqueles programas de rádio em que o senso de humor dos intervenientes torna os tópicos abordados intemporais. Ah! E os cromos do Markl na Comercial, claro.
Mas voltando ao Chá da Lapa, que fica a meio caminho de um dos percursos preferidos da minha pequena amiga de quatro patas, tenho que confessar a minha nostalgia quando assisto ao progressivo desaparecimento de alguns locais bem mais típicos que os actuais, e que fizeram parte da minha vida durante tanto tempo, que em alguma altura pensei que só desapareceriam quando a cidade desaparecesse ela própria. Ultimamente, por exemplo, morreu com 96 anos, o proprietário de uma das mais antigas e belas drogarias de Lisboa, e ela não lhe sobreviverá.
Mais longe ainda, e já quase completamente extintas, as velhas tabernas - havia uma espectacular, na Calçada do Castelo Picão, onde assisti a algumas das cenas mais hilariantes da minha vida, dignas de um filme da época do neo-realismo italiano - em que uma das partes era carvoaria e onde se empilhavam os barris, a outra, a taberna propriamente dita, serradura espalhada no chão, balcão - de madeira ou mármore grosseiro - largo e gasto pelos milhares de cotovelos e copos de 3 que por ele tinham passado. Numa das pontas, geralmente, uma “coluna” de petróleo, de onde o dono o “sacava” como se fosse uma “imperial”. Afinal, não havia casa na Madragoa que não tivesse o seu candeeiro a petróleo, para o caso de faltar a electricidade. Outra das inevitabilidades de uma taberna que se prezasse, era o prato dos ovos cozidos. E em casos de maior esmero do tasqueiro, um de carapaus de escabeche, que ele servia com as mesmas mãos com que aviava o petróleo ou enchia os sacos com 5 quilos de carvão. Graças, que na altura não havia ASAE.
Mas a maior peculiaridade desses locais, era o corvo á porta. Sujeito por uma das patas, o animal era o símbolo vivo das tabernas/carvoarias de Lisboa e era estimado e respeitado por toda a gente. Lembro-me que um dia, uma das minhas vizinhas, a D. Guilhermina, que tinha uma pedra de peixe no Mercado da Ribeira, levou a sobrinha que morava nas “avenidas novas” para ver o animalzinho. E não se esqueceu de lhe levar um mimo, uma lasquinha de carne de cavalo. Só que enquanto estendia o petisco ao corvo, virou, risonha, a cara para a sobrinha, como quem diz “disto não tens lá pelas tuas avenidas finas”, e na distracção, o Vicente (os corvos de Lisboa chamavam-se sempre Vicente), juntamente com o “bitoque” de cavalo, quase lhe decepava um dedo. Foi então que a D. Guilhermina deu uns gritos, ao mesmo tempo que desfiava o esmerado vernáculo herdado da sua juventude em Ìlhavo.
Espectáculo inesquecível e que decerto o Chá da Lapa nunca me proporcionaria.