quarta-feira, 23 de fevereiro de 2011

Coisas de homem (ou de gajo)...- III

Uma gravata é só um pormenor”.
Esta foi uma frase que um amigo meu um dia proferiu numa pequena tertúlia que mantínhamos há uns anos atrás, num conhecido café de Lisboa, cuja gerou alguma polémica.
Com efeito, estabeleciam-se naquele grupo, com alguma frequência, pequenas discussões, não propriamente sobre o vestuário - embora não fosse este um tema tabu - mas mais sobre divergências estéticas. E o curioso é que, em questões de gostos (na generalidade), até nem existiam grandes divergências entre nós.
(clique na imagem para aumentar)
Dito isto, a clivagem estabelecia-se pois, na importância da gravata, do seu uso ou da sua importância. E acrescento isto, porque o autor da frase, usava normalmente o sagrado item.
A uma das respostas que recebeu: “ A gentleman without a tie is not a gentleman”, talvez pelo radicalismo subjacente e por ter sido dada em tom snob, considerei eu ainda mais assinalável que a que lhe deu origem.
Não vou relatar a contenda na sua totalidade, acrescento só que a maioria daquele pequeno clube, considerava quase essencial o uso diário, sendo que alguns a tinham como dispensável em determinadas circunstâncias.
É claro que a alguns leitores parecerá qualquer das posições exageradas (a maioria considerará até tal discussão fútil), mesmo a mais condescendente, e portanto, é forçoso esclarecer que não estava em consideração o seu uso em tempos de lazer, mas tão somente o modo de alguém respeitável se apresentar no seu emprego ou numa soirée cinéfila.
Devo dizer que sou um adepto incondicional das gravatas, e que as uso (quando uso) ou usei, por gosto e nunca por obrigação. Tal gosto, deu azo a que ao longo de algumas dezenas de anos, tenha junto uma pequena colecção que aprecio bastante, mas que tem o grande defeito comum a qualquer colecção: nunca está completa.
E tenho um especial apreço por gravatas de malha de seda (também as há de malha de lã, mas não são tanto ao meu jeito), das quais apresento aqui, alguns exemplares que fazem parte da tal pequena colecção. Curiosamente, é um tipo de gravata que por cá não se vê muito, ou, pelo menos, não se vê tanto como eu gostaria (visto a minha preferência por elas) - mesmo tendo em conta que é um tipo de gravata cuja nó nem sempre é de fácil execução - e, como é óbvio, tenho marcas de eleição: Drake’s, Ascot ou Rubinacci, qualquer delas de muito boa qualidade e feitura.
Já agora, um conselho a quem se atreva com uma destas [isto (o “atrevimento”) porque, como é dito, a dificuldade em conseguir um nó bem feito, leva muitos ao desespero] : nunca puxe a gravata de molde a que o nó fique muito apertado. Tal terá como resultado a sua inevitável deformação.
E já agora: uma gravata é mesmo só um pormenor?

segunda-feira, 21 de fevereiro de 2011

Sweet 60's (4)


You've lost that loving feeling* - The Righteous Brothers


* - Top 1 em Inglaterra e EUA, Fevereiro de 1965

domingo, 20 de fevereiro de 2011

O mapa do bairro - Pormenores (3)


Interior


Friso


(Clique nas fotos para ampliar)

quarta-feira, 9 de fevereiro de 2011

Coisas de homem (ou de gajo)...- II

Sou lisboeta, e a minha vida - que já conta uns anos valentes - sempre decorreu num “triângulo” - Amoreiras, Campo de Ourique, Lapa - que como que me adoptou, e de onde me parece que não me seria já possível migrar para outra qualquer zona da cidade. Habituei-me à pacatez da Lapa, paredes meias com a Madragoa, onde passeio à noite sem o mínimo receio de ter qualquer aborrecimento - o que poderia constituir o seu único senão é a morfologia demasiado acidentada do bairro, mas que até acaba por ser um ponto positivo, pois obriga-nos a uma ginástica diária e nos evita dispendiosas idas ao ginásio - e tenho ainda o privilégio de sentir os aromas do Tejo, ali bem à minha vista logo que acordo.
Curioso no bairro é que, apesar do seu “clima” aprazível, o comércio não floresce. Se excluirmos a restauração, parece que nada se dá por aqui, ao contrário de Campo de Ourique, bairro fornecido de lojas, embora me pareça que mesmo aí, as coisas já não sejam como há uns anos atrás, e que quem queira qualidade, terá que se deslocar às Amoreiras, ou a outra zona comercial.
Mas a verdade, é que Lisboa, ao contrário de outras capitais europeias, pouco preserva as suas lojas mais emblemáticas, e, uma a uma, vamos assistindo ao seu desaparecimento. De lojas de pronto a vestir a discotecas (estas sacrificadas ao “deus” FNAC), tudo morre, e mesmo a Baixa deixou há muito de ser local obrigatório para quem se queria vestir ou calçar bem. Morreu o Adão Camiseiros (belíssimas popelinas e excelente corte para qualquer modelo de camisa) e a Melodia. A Valentim de Carvalho e a Old England. Já para não falar das grandes lojas de homem da avenida da Liberdade, do Santos & Nascimento à Pestana & Brito.
É portanto, com muita satisfação que vejo aquelas velhas lojas que sobrevivem, e se vão mantendo, como a Luvaria Ulisses, na Rua do Carmo, que deve ser uma das lojas mais pequenas do mundo, mas que a tudo tem resistido. E quem quiser luvas impecáveis, é só procurar aí. A última vez que lá fui, no princípio deste Inverno, resultou na compra das luvas de peccary da foto, substitutas de outras que tinham entregue a alma ao criador, sacrificadas na substituição de um pneu estupidamente furado em plena autoestrada.
E delas se pode dizer que, além do extraordinário “toque”, assentam que nem uma luva.