quarta-feira, 9 de fevereiro de 2011

Coisas de homem (ou de gajo)...- II

Sou lisboeta, e a minha vida - que já conta uns anos valentes - sempre decorreu num “triângulo” - Amoreiras, Campo de Ourique, Lapa - que como que me adoptou, e de onde me parece que não me seria já possível migrar para outra qualquer zona da cidade. Habituei-me à pacatez da Lapa, paredes meias com a Madragoa, onde passeio à noite sem o mínimo receio de ter qualquer aborrecimento - o que poderia constituir o seu único senão é a morfologia demasiado acidentada do bairro, mas que até acaba por ser um ponto positivo, pois obriga-nos a uma ginástica diária e nos evita dispendiosas idas ao ginásio - e tenho ainda o privilégio de sentir os aromas do Tejo, ali bem à minha vista logo que acordo.
Curioso no bairro é que, apesar do seu “clima” aprazível, o comércio não floresce. Se excluirmos a restauração, parece que nada se dá por aqui, ao contrário de Campo de Ourique, bairro fornecido de lojas, embora me pareça que mesmo aí, as coisas já não sejam como há uns anos atrás, e que quem queira qualidade, terá que se deslocar às Amoreiras, ou a outra zona comercial.
Mas a verdade, é que Lisboa, ao contrário de outras capitais europeias, pouco preserva as suas lojas mais emblemáticas, e, uma a uma, vamos assistindo ao seu desaparecimento. De lojas de pronto a vestir a discotecas (estas sacrificadas ao “deus” FNAC), tudo morre, e mesmo a Baixa deixou há muito de ser local obrigatório para quem se queria vestir ou calçar bem. Morreu o Adão Camiseiros (belíssimas popelinas e excelente corte para qualquer modelo de camisa) e a Melodia. A Valentim de Carvalho e a Old England. Já para não falar das grandes lojas de homem da avenida da Liberdade, do Santos & Nascimento à Pestana & Brito.
É portanto, com muita satisfação que vejo aquelas velhas lojas que sobrevivem, e se vão mantendo, como a Luvaria Ulisses, na Rua do Carmo, que deve ser uma das lojas mais pequenas do mundo, mas que a tudo tem resistido. E quem quiser luvas impecáveis, é só procurar aí. A última vez que lá fui, no princípio deste Inverno, resultou na compra das luvas de peccary da foto, substitutas de outras que tinham entregue a alma ao criador, sacrificadas na substituição de um pneu estupidamente furado em plena autoestrada.
E delas se pode dizer que, além do extraordinário “toque”, assentam que nem uma luva.

3 comentários:

  1. Vamos lá a ver mais uma tentativa... Só para dizer que já o meu avô paterno e o meu pai eram clintes da Ulisses. Tb o sou há mtºs anos e tenho sempre 3 pares de luvas de lá, todas do modelo clássico: de pelica preta, castanha e outras de camurça. E eles dão assistência gratuíta às luvas, caso se descosam, etc. Já lá mandei umas de camurça e em 3 semanas ficaram quase como novas.

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  2. Ainda existem mesmo coisas que passam de pai para filho

    Abraço

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Eu leio todos com atenção. Mas pode não ser logo, porque sou uma pessoa muito ocupada a preencher tempos livres!