segunda-feira, 22 de outubro de 2012

O Post Adiado Desde Dia 12 (ParteI/II)

Ora então aqui vai o post sobre o qual tanto hesitei em editar.
Qualquer pessoa minimamente inteligente, poderá, ao lê-lo, entender o porquê das minhas tão demoradas ponderações. O assunto é pessoal, gosto de me dar a conhecer, mas ao mesmo tempo, sei que haverá sempre interpretações erróneas sobre o escrito. Mas dado o que entendo ser interessante saber por parte de quem normalmente me lê, decidi-me.
O relato tem ligação com o escrito que editei no dia 4 de Maio, e que intitulei como “O 1º dia do resto da minha vida”. Lido o texto, poder-se-á ter ideia de que terei tido o meu 1º contacto como doente com os serviços do IPO de Lisboa em 2010. Errado!
Vamos então à história
Nos inícios de 1991, tive que fazer uma visita ao meu estomatologista, não só para que ele me fizesse a reconstituição num dente e uma limpeza geral, mas também para me queixar de uma hipersensibilidade dentária que quase não me deixava lavar os dentes. Supondo ser uma gengivite, receitou-me já não me lembro o quê, mas lembro-me que não fez qualquer efeito, o que lhe referi na 2ª visita.
Ao inspeccionar-me então todos os cantos da boca, reparou que havia uma mancha muito suspeita no pavimento bucal, mesmo por debaixo da língua. Chamou o seu chefe de serviço, que corroborando a suspeita, e decidiu fazer uma biópsia logo na altura. Esta palavra, biópsia, tem o seu peso específico, toda a gente sabe disso. De modo que, até saber o seu resultado, os meus dias foram um pouco sobressaltados.
O pior é que as as expectativas negativas se confirmaram, e ao me comunicarem que tinha um carcinoma, e como os SAMS na altura não tinham serviço avançado de oncologia, aconselharam-me a ir de imediato ao IPO.
Portanto, aí está, em Fevereiro de 1991 deu-se o meu primeiro encontro com os serviços do IPO de Lisboa. Quem hoje vá ao Instituto e se perturbe por razões óbvias, nem imagina o quanto intimidante era nessa altura entrar naquelas instalações, dado o seu estado o seu estado de conservação e a falta de organização então reinante. Bom, mas para abreviar, quando cheguei às mãos dos médicos que me haveriam de traçar o destino, os meus nervos já estavam por um fio. Contudo, o médico principal – um homenzarrão de idade já algo avançada – rapidamente decidiu que eu teria que fazer um tratamento de curieterapia, que eu não fazia a mais pálida ideia do que seria. E marcou-me de imediato o internamento. Era uma excelente pessoa, facto de que me vim a aperceber com o decorrer dos tempos, mas ainda à moda antiga: decidia e não dava muitas explicações.
Entrei às 20h de um dia, e antes de o fazer, sempre acompanhado da minha mulher, fumei o último cigarro da minha vida. Na enfermaria só estavam mais dois homens internados, que me contaram que eram habitués, sendo que um deles apresentava uma deformação facial provocada por uma intervenção anterior, e que não me deixou nada descansado.
Nessa noite, antes de adormecer, deram-me um copo de leite morno e um xanax – fármaco que nem conhecia – e dormi até à manhã seguinte, quando me foram buscar. Anestesia – intervenção – acordar por volta do meio-dia com a certeza que tinha algo de intrusivo e muito incómodo na boca.
Depois soube de que se tratava: a curieterapia, era feita com várias pequenas agulhas espetadas de volta da lesão, de modo a irradiarem, e presumivelmente, a eliminá-la. Aquilo era muito incómodo e doloroso, uma vez que é quase impossível mantermos a boca completamente imóvel, quer porque estamos sempre a salivar, quer porque engolimos, e então quando se tratava de comer, o problema era realmente muito difícil de superar. Para falar com médicos enfermeiras ou visitas, tinha que o fazer atrás de uma espécie de andarilho de chumbo um pouco mais baixo que eu, com uns 20cm de espessura e com umas rodas para o poder mover, e que impedia que os meus interlocutores fossem irradiados. É claro que devido às agulhas, falava o mínimo possível
Passei assim 7 dias. Ao 8º e pouco depois do almoço, fui levado até ao meu médico, que depois de me observar, me tirou as agulhas, e me mandou para casa, dando-me uma palmada nas costas com aquelas manápulas dele, e me disse para me por a mexer, com um sorriso nos lábios.
Acho que nunca me vesti tão depressa e devo ter batido um record de velocidade qualquer para apanhar o 1º táxi que me apareceu e que me levou a casa. As coisas pareciam ter corrido bem, e comecei a ter consultas de observação, que começaram por ser semanais, até que, com o decorrer do tempo, se tornaram quinzenais, mensais e ... semestrais.
Em 1996 – 5 anos é o espaço de tempo considerado correcto para determinar que um carcinoma se encontra em remissão total – consideraram-me “curado”, mas continuei a ir lá anualmente por uma questão de prevenção.
Nesse ano, tive que mandar fazer uma prótese de 4 dentes para o maxilar superior, e, apesar de ter sido corrigida 2 ou 3 vezes, sempre me incomodou a gengiva inferior na parte mais recuada, junto à articulação.
Em 1998, comecei a sentir que algo não estava certo, uma vez que, ao mastigar, sentia o que parecia ser uma ferida, na zona afectada, e quando cheguei de férias, decidi ir ao dentista, uma vez que supus ser ele capaz de me resolver o problema.
Porém, mal me viu a zona queixosa, lá me mandou ele recambiado para o IPO.
Estávamos em princípios de Setembro de 1998...
 
(continua e conclui ainda hoje ou amanhã: Conclusão e Conclusões)

8 comentários:

  1. Vic, quando li o teu texto sobre a hesitação em escrever sobre um problema pessoal, a primeira coisa que pensei foi sobre este assunto, que em tempos já tinhas referido, embora de forma abreviada. Haverá alguma coisa pior e mais íntima do que escrever sobre o sofrimento vivido? A mim, não me parecia...

    Bem sei que tem sequência, como nesse texto mais antigo referiste e aqui referes, mas aguardarei a conclusão.

    Só desejo sinceramente que neste momento esteja tudo bem, ou o melhor possível, face às circunstâncias!

    Um grande abraço para ti!

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  2. Não quero/posso tecer comentários. :)
    Só quero dizer-te que nutro uma grande admiração por ti, por te saber um Homem corajoso e cheio de garra!
    E, claro, desejo que tudo esteja bem contigo e, já agora, com a tua companheira que, de certeza, é uma Mulher forte e muito generosa!

    Aquele abraço que só se dá aos heróis :)

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  3. Só posso esperar que esteja tudo bem...aguardo a continuação!

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  4. Ó Vic, eu não faço a mínima ideia do que isso possa ser, mas vou mostrar este texto (espero que não te importes) a uma pessoa da qual gosto muito e que sinto que está a morrer aos bocadinhos devido à quantidade absurda de cigarros que fuma. É tão triste hipotecarmos as nossas vidas por causa de algo tãi inútil como um cigarro. Espero, honestamente, que estejas bem. :)

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  5. Vou aguardar pelas Conclusão/conclusões mas não quis passar sem te dizer que te desejo o melhor!

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  6. Pelo simples motivo de já serem decorridos 14 anos do fim do relato acima, deduzo que estás curado e antecipadamente, te felicito e dou-te um abraço enorme.De alívio, pois deves forçosamente estar curado; fica o trauma porque passaste, difícil de vencer. Eu passei por coisas que me causaram trauma parecido, com minha mãe.Mas estás aí despejando charme e elegância, então estás bem vivo e bem.E o plural de pão é pães....:D

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  7. Espero pela conclusão, Vic. E espero sinceramente que, mais uma vez, seja para dizeres que está tudo bem contigo. Que esses anos foram difíceis, mas que fazem parte do passado. Agora é olha para o futuro!!
    Beijo grande!

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  8. Também eu percebi que abordarias este assunto.
    Pela tua confiança em nós, os teus leitores e comentadores mais assíduos, o meu obrigada.
    Aguardo a conclusão com um sorriso, na esperança que nos digas que a remissão total aconteceu.:)

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Eu leio todos com atenção. Mas pode não ser logo, porque sou uma pessoa muito ocupada a preencher tempos livres!