terça-feira, 14 de fevereiro de 2012

Preconceituoso sim, com muito gosto

O acusado só poderá ser considerado culpado, depois da sentença ter transitado em julgado” Esta é, provavelmente, a frase de Direito, que nos últimos anos mais se tem ouvido e escrito em Portugal.
Contudo, sabe-se que a maioria dos portugueses reagem nos casos jurídicos de maior repercussão ignorando essa, digamos, “lei”. Os portugueses sabem do caso, avaliam por si próprios e condenam ou absolvem…conforme a simpatia que nutrem ou não pelos acusados.
Veja-se por exemplo o caso de Isaltino Morais (que por acaso até já foi condenado umas poucas de vezes pelos tribunais): se questionados, a generalidade dos portugueses não terá dúvidas sobre a sua culpabilidade, excepto uns milhares que votam nele em Oeiras. Em relação a Fátima Felgueiras (que até já foi absolvida), a coisa passar-se-á mais ou menos da mesma forma: culpada, excepto para uns milhares de felgueirenses que já votaram nela e para os seus amigos e família.
Em relação ao caso “Casa Pia”, e tomando como exemplo o acusado mais mediático, Carlos Cruz, o país divide-se: para uma parte significativa da população é culpado, um pedófilo que merece ir para a prisão. Porquê? Porque confiam piamente na justiça que se pratica em Portugal. Tal como acreditavam nos antigos Tribunais Plenários, quando estes condenavam anti-fascistas sem provas. “Se foram condenados, é porque são perigosos comunistas!”.
Os restantes portugueses acham que foi tudo uma cabala. E em que se baseiam para assim pensar? No facto antigamente gostarem muito dos programas dele na televisão.
Isto é, os portugueses são na sua maioria preconceituosos. Como eu.
Mas o caso de Jonathan King, o homem que escreveu e canta a canção abaixo, não se passou em Portugal. JK foi acusado na Inglaterra em 2000 de ter mantido relações abusivas com 6 adolescentes de 14/16 anos entre 1983 e 1989. Em 2001, apesar de se ter sempre declarado inocente, foi condenado a 8 anos de cadeia, condenação à qual se opuseram alguns dos mais conceituados e abalizados especialistas em Direito Penal do Reino Unido, alegando eles que JK não teria tido direito a um julgamento justo. Cumpriu mais ou menos 4 anos, saindo em liberdade condicional em 2005, e reacendeu o caso, continuando a clamar a sua inocência. A partir daí, foram-se provando vários vícios que tinham enfermado o julgamento de King, e muitos pedidos de desculpas lhe têm sido apresentados.
Não sei se Jonathan é culpado dos crimes que lhe foram imputados. O que sei é que fez músicas como “Everyone’s gone to the moon”, que me deram grande prazer ouvir. E a ele se deve também o despontar dos Genesis, pois que foi o produtor do álbum “From Genesis to Revelation”.


Portanto, para mim, que abomino pedófilos mas que também sou português e consequentemente preconceituoso, será sempre inocente.

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Eu leio todos com atenção. Mas pode não ser logo, porque sou uma pessoa muito ocupada a preencher tempos livres!