O homem tem estampado na cara aquele esgar de fumador constante de charutos, o beiço descaído como se um deles lhe tivesse caído da boca naquele instante. Olho para o sujeito e lembro-me que se um cineasta português mais arrojado - e endinheirado - tivesse a ideia de rodar um filme baseado na grande depressão de 1929 dos EUA, seria ele quem imediatamente lhe viria à cabeça para desempenhar o papel de Al Capone.
Curiosamente, em tempos não muito distantes, desempenhou ele um papel em tudo semelhante na vida real, embora e ao contrário de Al, procedesse a coberto da lei - iníqua, mas lei - assim uma espécie de Xerife de Nottingham, sacando ao povo mas protegido pelo manto do inescrupuloso Príncipe John. E era tanta a sua arte no sacar, que os seus próprios cofres enchiam-se mensalmente mais, que os do seu protector e até com a aquiescência deste.
Uns tempos depois apearam-no do cargo, mas ele soube logo que não estaria muito tempo na penumbra. Homens com o seu calibre não se podiam perder em tarefas comezinhas. “Precisamos de um homem daqueles com eles no sítio, que faça “sangue” sem se comover”. E foi novamente chamado, agora para um cargo de maior notoriedade: teria que “tratar da saúde” - literalmente - à plebe. “Mas note, não se esqueça do seu passado: corte a direito, corte onde for preciso”. E assim, começou a sua tarefa de esbulhar o povo, desta vez não através de dízimas, mas de cortes nos poucos benefícios que ainda restavam àquela turba mal educada e mal cheirosa que por vezes tinha o desplante de apupar os "senhores" como ele. Mas ao longe, que os mandantes gostavam de frisar bem que no país ainda havia classes.
Até que um dia tomou uma decisão que afectou um grupo de gentalha que, por acaso, até lhe dava jeito: eram uns milhares de parvos que lhe enchia os cofres de matéria prima essencial a que a plebe pudesse ser curada de achaques de modo a poder trabalhar e assim continuar a contribuir com a dízima. Decidiu ele então que um insignificante benefício que lhes era concedido como paga pelo que faziam em favor do bem comum, lhes fosse retirado, que eles, ignorantes, comeriam e calariam. As usual.
Engano o seu. Dessa vez a turba não se ficou, deitou os arreios ao ar, e descaramento dos descaramentos, deixou de contribuir como era habitual, o que causou uma imediata rotura nos stocks da matéria prima primordial.
O caso era sério. Nunca ele pensara que aqueles miseráveis tomassem uma tal atitude. Como ousavam? E o pior é que lia os jornais e toda a gente se achava no direito de criticar a tal medida. Que lata!
Mas ele tinha uma inteligência superior, era manhoso, um rato. Mais, uma ratazana. E assim, deixou-se ficar na sombra e mandou um dos seus acólitos, em tom melífluo, dar explicações e apelar ao bom coração dos prevaricadores: “Que o país estava exangue, que havia que congregar boas vontades, que era alarmante a falta de matéria prima, e que não se descobria explicação para o que estava a acontecer”. Claro, nada de tocar sequer no que despoletara a situação: isso seria dar notoriedade aos imbecis.
No fim, a chantagem, afinal uma das armas que o próprio Al Capone usava: "em 2 ou 3 dias não haveria matéria prima que chegasse para ajudar a cuidar muitas maleitas que afligiam os enfermos que se estendiam nas camas dos hospitais aguardando a intervenção dos sábios".
No final, os imbecis condoer-se-iam dos seus iguais e voltariam às boas, até com vontade redobrada. Voltar atrás na decisão que tomara? Nunca! Ele era um homem de antes quebrar que torcer.
“Nem que isso custe meia dúzia de mortes. Gentalha despudorada a querer parecer importante!”
Curiosamente, em tempos não muito distantes, desempenhou ele um papel em tudo semelhante na vida real, embora e ao contrário de Al, procedesse a coberto da lei - iníqua, mas lei - assim uma espécie de Xerife de Nottingham, sacando ao povo mas protegido pelo manto do inescrupuloso Príncipe John. E era tanta a sua arte no sacar, que os seus próprios cofres enchiam-se mensalmente mais, que os do seu protector e até com a aquiescência deste.
Uns tempos depois apearam-no do cargo, mas ele soube logo que não estaria muito tempo na penumbra. Homens com o seu calibre não se podiam perder em tarefas comezinhas. “Precisamos de um homem daqueles com eles no sítio, que faça “sangue” sem se comover”. E foi novamente chamado, agora para um cargo de maior notoriedade: teria que “tratar da saúde” - literalmente - à plebe. “Mas note, não se esqueça do seu passado: corte a direito, corte onde for preciso”. E assim, começou a sua tarefa de esbulhar o povo, desta vez não através de dízimas, mas de cortes nos poucos benefícios que ainda restavam àquela turba mal educada e mal cheirosa que por vezes tinha o desplante de apupar os "senhores" como ele. Mas ao longe, que os mandantes gostavam de frisar bem que no país ainda havia classes.
Até que um dia tomou uma decisão que afectou um grupo de gentalha que, por acaso, até lhe dava jeito: eram uns milhares de parvos que lhe enchia os cofres de matéria prima essencial a que a plebe pudesse ser curada de achaques de modo a poder trabalhar e assim continuar a contribuir com a dízima. Decidiu ele então que um insignificante benefício que lhes era concedido como paga pelo que faziam em favor do bem comum, lhes fosse retirado, que eles, ignorantes, comeriam e calariam. As usual.
Engano o seu. Dessa vez a turba não se ficou, deitou os arreios ao ar, e descaramento dos descaramentos, deixou de contribuir como era habitual, o que causou uma imediata rotura nos stocks da matéria prima primordial.
O caso era sério. Nunca ele pensara que aqueles miseráveis tomassem uma tal atitude. Como ousavam? E o pior é que lia os jornais e toda a gente se achava no direito de criticar a tal medida. Que lata!
Mas ele tinha uma inteligência superior, era manhoso, um rato. Mais, uma ratazana. E assim, deixou-se ficar na sombra e mandou um dos seus acólitos, em tom melífluo, dar explicações e apelar ao bom coração dos prevaricadores: “Que o país estava exangue, que havia que congregar boas vontades, que era alarmante a falta de matéria prima, e que não se descobria explicação para o que estava a acontecer”. Claro, nada de tocar sequer no que despoletara a situação: isso seria dar notoriedade aos imbecis.
No fim, a chantagem, afinal uma das armas que o próprio Al Capone usava: "em 2 ou 3 dias não haveria matéria prima que chegasse para ajudar a cuidar muitas maleitas que afligiam os enfermos que se estendiam nas camas dos hospitais aguardando a intervenção dos sábios".
No final, os imbecis condoer-se-iam dos seus iguais e voltariam às boas, até com vontade redobrada. Voltar atrás na decisão que tomara? Nunca! Ele era um homem de antes quebrar que torcer.
“Nem que isso custe meia dúzia de mortes. Gentalha despudorada a querer parecer importante!”
Sem comentários:
Enviar um comentário
Eu leio todos com atenção. Mas pode não ser logo, porque sou uma pessoa muito ocupada a preencher tempos livres!