A única coisa que me interessava do pai do Raúl, o sr. Raimundo, eram as sandes mistas que a mulher dele fazia para o nosso lanche, e as voltas que me proporcionava a bordo do seu bólide.
A minha excursão favorita era quando íamos à Bobadela, onde o pai do Raúl ia mudar o óleo ou fazer a revisão ao carro. Aquilo era quase uma excursão. Ia o sr. Raimundo, claro, com o seu boné à inglesa, como ele lhe chamava, e os seus Ray Ban, a mulher, (os dois nos assentos da frente), o Raúl, a irmã do Raúl, eu, e por vezes mais uma ou outra pessoa cá atrás. E enquanto o carrinho ficava na oficina de um gajo com mau aspecto, nós íamos ao Pesudo comer bacalhau assado e febras na brasa.
Até hoje, estou para entender como por vezes se conseguia meter tanta gente naquele ovo de 3 rodas, porque de vez em quando a avó do Raúl, sogra do sr. Raimundo claro, queria ir, e ele com má cara, insistia sempre em a querer pôr entre o banquinho de trás, onde nós os 3 íamos apertadinhos, e o motor, de maneira que a velhota ia lá atrás toda amarrotada, e chegava sempre a suar por todos os lados, e com o pó de arroz a escorrer-lhe pelas bochechas.
Uma vez, também o Silvino, que era um anão que morava no rés-do-chão, soube que íamos à Bobadela e pediu boleia. O sr. Raimundo disse que sim, mas como o espaço onde costumava ir a sogra estava ocupado com um saco de batatas, ele disse ao Silvino, que só se ele fosse deitado debaixo dos bancos da frente. E lá foi o anão, coitado, todo encolhido, e o Raúl que não o gramava porque ele lhe tinha rasgado uma bola que tinha ido parar ao quintal do Silvino, ainda lhe assentou dois ou três pontapés nas costas, e
pedindo-lhe sempre desculpa e dizendo que tinha sido sem querer, que era por ir um bocado apertado. Coitado, o anão chegou à Bobadela todo amachucado, e para cá já não quis boleia, veio na Camioneta dos Capristanos.
Mas havia outra coisa que me intrigava no carro: a porta era a parte da frente do carro, de modo que o carro não tinha porta-luvas. Mas do lado do sr.Raimundo, aquilo tinha uma espécie de bolsa, de onde de vez em quando ele tirava uma coisa. Aliás, acho que nunca vi ninguém tirar tanta coisa de uma bolsa tão pequena, aquilo parecia a gruta do Ali-Bábá.
Ora, houve um dia em que o sr. Raimundo se esqueceu do carro aberto, e eu decidi que era altura de saber o que realmente havia na bolsa. E descobri: uma pistola de 9mm (esta já sábia que lá estava, porque o sr. Raimundo, quando passávamos em sítios ermos e com árvores, parava o carrinho, sacava da pistola, e desatava aos tiros aos pássaros que conseguia ver), meio pacote de bolacha Maria a cheirar a mofo, dois cotonetes usados, duas revistas da Playboy, um rolo de papel higiénico, meia carcassa com marmelada, um chave inglesa, uma garrafa de cerveja Sagres vazia e três fraldas de pano (acho que eram da sogra do sr.Raimundo).
Ora, houve um dia em que o sr. Raimundo se esqueceu do carro aberto, e eu decidi que era altura de saber o que realmente havia na bolsa. E descobri: uma pistola de 9mm (esta já sábia que lá estava, porque o sr. Raimundo, quando passávamos em sítios ermos e com árvores, parava o carrinho, sacava da pistola, e desatava aos tiros aos pássaros que conseguia ver), meio pacote de bolacha Maria a cheirar a mofo, dois cotonetes usados, duas revistas da Playboy, um rolo de papel higiénico, meia carcassa com marmelada, um chave inglesa, uma garrafa de cerveja Sagres vazia e três fraldas de pano (acho que eram da sogra do sr.Raimundo).
Enfim, velhos tempos. Gostava de andar no Heinkel do pai do Raúl. Só não gostei do dia em que lhe faltou gasolina em Sacavém e eu, mais o Raúl, a irmã e a mãe dele tivemos que empurrar o carro mais de um quilómetro e sempre a subir, enquanto o sr. Raimundo ia todo repimpado ao volante, e só gritava: "Força! Estamos lá quase!"
Essa foi mesmo para esquecer!
Ir a Bobadela com o raimundo e o raul e um anao num Heinkel e lindo!...parece aquela cena de fantasias de natal
ResponderEliminarLol! E veio o coelhinho e comeu-o. Xuxi, o anão ainda anda por aqui :)
Eliminartambém me lembro de ir de férias num mini com os meus pais, o meu irmão e a minha avó. até hoje não percebo como cabíamos lá nós e respectivas tralhas...
ResponderEliminarEheheh, com boa vontade cabiam todos:)
EliminarNão conhecia este carro mas hoje em dia faria um sucesso assim como o Sr. Raimundo que já andava de Ray Ban, quanto ao anão sempre podiam ter feito um arremesso podia ser que chegasse mais depressa à bobadela.
ResponderEliminarRST, olha que os RayBan, aquele modelo mais comum, já existe há dezenas de anos. Para teres uma noção, eram muito usados pelos pilotos na II Grande Guerra. Quanto ao carro, era maravilhoso, mas muito apertadinho atrás. E não era para essas grandes lol!
Eliminar(opá, vocês não gostam mesmo de anões)
Isso dos óculos já sabia, lembro-me do meu pai ter uns aviator com as lentes verdes, e agora estão novamente na moda.
EliminarVic, acho que hoje ainda não me tinha rido tanto...
ResponderEliminarObrigado por esta pérola :)
Menino, pelos vistos, valeu a pena o tempo da leitura. Fico feliz :)
EliminarUm homem tão arranjadinho de boné e Ray Ban, guardava junto da pistola 9mm: bolachas com mofo, cotonetes usados, papel higiénico, revistas playboy e fraldas de pano...pelo menos o carro era giro.*
ResponderEliminarÉ verdade, tétisq, o sr. Raimundo não desperdiçava nada :)
EliminarAi para o que estava sentado, ao volante, não custou nadinha. Para os burros de carga - vocês - deve ter sido inesquecível.
ResponderEliminarSe foi, S*. Parece que ainda hoje me doem as costas :)
EliminarQue expressivo, Vic, imagino a história ao pormenor. Tão bom :))
ResponderEliminarEheheh! TR, foi assim que a vivi :)
Eliminar:D :D :D
ResponderEliminarMuito, muito bom!
E lembrei-me de um amigo do meu mano (quase gigantes) que teve um Fiat 500. Para entrar, metiam as pernas e seguravam-se no tejadilho. Vinham de novo para fora. Depois metiam-a a cabeça e o tronco e sentavam-se. Saíam de novo. Só à terceira é que era de vez. Faziam sempre uma cena teatral! E nós, as respectivas irmãs caçulas de ambos, riamos à gargalhada.
Era o tempo em que havia tempo! :)
E ainda há nêspera. Cabe-nos a nós arranjá-lo :)
ResponderEliminarCom certeza que ainda há... mas parece sempre que o relógio anda mais depressa nessas ocasiões :)
ResponderEliminarEh pah... Felini deliraria com este argumento :DDD
ResponderEliminarE logo uma história verídica, PE
Eliminarnunca vi um bicho destes, acreditas? tristeza :(
ResponderEliminarEram o máximo. Motel. Existiam uns outros, ligeiramente maiores que creio que eram da BMW, que também era muito engraçados :)
EliminarXi, pá, uma pessoa passa um diazito ou dois mais distraída ou ocupada, e depois passam-lhe um data de histórias giras ao lado! E esta é genial! Nem sabia que aqueles "ovos" eram dessa marca Heinkel, mas lembro-me bem deles, eheheh! :D
ResponderEliminarEram o máximo, Teté :)
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