domingo, 20 de maio de 2012

Por terras do Auvergne, Dourdogne e Limousin

De há uns anos para cá, deixei de apreciar viagens de avião. Daí resulta que só para destinos aos quais é inacessível a viagem de automóvel é que utilizo aquele meio de transporte. Gosto de conduzir, e é assim que tenho feito algumas das viagens que me deram mais prazer. Uma delas - por acaso foram duas, uma vez que não resisti a voltar ao local do "crime", embora na repetição tenha feito uma volta diferente, e visitado novos locais - foi ao sudoeste de França, uma região encantadora. Sempre me seduziu a história da Idade Média, a sua evolução arquitectónica, os tempos dos cavaleiros e dos torneios, e se há sítio onde essa memória está bem conservada é neste de que agora vos falo.
Partimos de Castelo Branco onde tínhamos estado 2 dias em casa de família, rumo a Bilbao. Parámos a meio para um almoço breve, e fomos dormir à cidade do Guggenheim, mas dessa cidade falarei noutra ocasião.
Ficámos no Sheraton que acabara de ser inaugurado, ainda tivemos tempo para ver uma exposição que estava patente no museu, e no dia seguinte, eis-nos a rumar a França. A passagem dos Pirinéus foi feita debaixo da maior tempestade de que me lembro. Muita chuva, trovões e relâmpagos a cair à nossa frente, e às 10 da manhã parecia que ia anoitecer, e eu a pensar que não íamos sair dali ilesos.
Rumámos a norte, atravessando a Aquitânia, e quando chegámos a Bordéus, virámos à direita com paragem em Sarlat la Caneda, já no Limousin,a 1ª visita prevista.
Sarlat é uma vila medieval extraordinariamente bem conservada, e que a cada esquina nos reserva uma surpresa arquitectónica. Tudo muito limpo, excelente cozinha - estávamos na região do foie-gras - e gentes acolhedoras.

Do destino seguinte, Collonges-la-Rouge, já aqui falei, mas o que possa dizer é sempre pouco, face ao carácter extraordinário da pequena povoação.
Na verdade, seguindo nós por estradas quase abafadas pelo arvoredo cerrado, tudo muito verde, é espectacular quando se chega e se nos depara um aglomerado de casas todas em pedra vermelha escura e telhados negros. Um contraste invulgar e que dá à aldeia um tom quase fantasmagórico. Para mais, quando chegámos, chovia copiosamente. o que acentuava o sombrio da urbe.
Em Collonges, optámos por ficar num chambre d'hôtes na casa de um casal muito simpático, que nos indicou onde deveríamos jantar, indicação que se revelou esplêndida. De manhã, e depois de um pequeno almoço caseiro, uma visita mais aprofundada à vila (talvez mais aldeia, dada a sua pequenez). É impressionante que cada rua tem qualquer coisa que nos prende a atenção. Uma nota para referir que a zona é rica em nogueiras e que foi desde essa altura que me habituei a usar o óleo de noz para temperar saladas, às quais junto também pequenos pedaços de noz, tal qual vi fazer aos franceses daquela zona (Auvergne).
A região é pródiga em castelos medievais, alguns deles abertos ao publico em determinadas alturas do ano, outros transformados em hotéis de charme.
Finda a visita, rumámos a Sul, para Carcassone, quase sempre com os maravilhosos campos de lavanda a lavarem-nos a vista. Mas essa parte da viagem - a Carcassone e Côte d'Azur - fica para outras núpcias.
A esta região, e porque tínhamos ficado entusiasmados com o que víramos, voltámos tempos mais tarde. A passagem por Espanha foi feita rapidamente, e chegados a França, desta feita através dos Midi-Pyrénées e passando por Toulouse, dirigimos-nos a Cahors
Cahors é a pequena e curiosa capital do Lot, e fica confinada dentro de uma estranha ferradura que o rio Lot forma no seu percurso. A sua ponte medieval e as suas rosas, são as suas imagens de marca.

Rosa de Cahors

Fizemos de Cahors o nosso quartel general.
Ficámos hospedados num hotel de charme muito bonito, bem no centro histórico, e de lá saíamos todos os dias para as nossas explorações pelas redondezas.
Infelizmente, desta nossa 2ª viagem, perdi quase todas as fotos, guardadas num computador que "crashou" uns tempos depois. E lastimei o facto, principalmente porque nele guardava a maior parte das que tirámos num dos mais fantásticos sítios por onde passámos: Rocamadour. 
Vindos de Cahors e depois de alguns quilómetros feitos através de estradas ladeadas por bosques luxuriantes, Rocamadour aparece-nos repentinamente após uma curva da estrada, e é quase um choque. A vila parece cravada numa encosta. Vista da estrada, torna-se-nos difícil perceber como ter acesso às várias zonas da vila.
Automóvel estacionado, apanhamos um mini-combóio que nos leva ao centro. A partir daí, a visita torna-se relativamente fácil, embora exija algum fôlego, tal o número de degraus que subimos, muitos deles, atravessando arcadas sob alguns dos maiores edifícios. Rocamadour faz parte da rota os Templários e dos caminhos de Santiago. Curioso foi assistir a uma parte de uma missa para caminheiros, dada num recanto de um dos conventos atravessados pelos degraus que acima referi, e a poucos metros de onde passavam os turistas.
O interior de Rocamadour é relativamente pequeno mas riquíssimo. O tempo parece não ter passado por ali e ter parado nos tempos de O Nome da Rosa, de Eco. O ambiente é místico e convoca-nos ao recolhimento. De tal forma que damos por nós a falar quase em tom de murmúrio em plena rua.
Sem vontade de deixar aquele lugar maravilhoso, tivemos que nos despedir, rumo a novas descobertas. Mas essas, ficarão para outra ocasião, que o post já vai longo

29 comentários:

  1. O melhor que posso dizer é que fiquei com vontade...

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  2. Há muito tempo que ando para ir a esses lados mas a minha prioridade é Carcassone e Perpignan

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  3. Adorei :) já fiz a mesma viagem, com alguns locais em comum, já lá vão uns bons anos. Também gosto de ir de carro, vê-se mais, conhece-se mais, experiencia-se mais. O cansaço depois recupera-se. Que vontade!

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    1. Verdade, TR. Uma viagem deste género vale o esforço. Se forem 2 a conduzir, é mais fácil. Mas se for como da 2ª vez que lá fui, faz-se bem. Arranja-se um sítio de onde se sai todos os dias e percorre-se a zona toda. Ainda me falta ver umas coisas por lá :)

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  4. Fantástica repotagem. Adorei!
    Ando a ponderar uma viagem de carro pela Itália ou França, o meu senão é que as viagens de carro cansam-me muito, quando vou à Espanha visitar o meu irmão, e são apenas 9h de viagem sem paragens, chego lá completamente morta.

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    1. Pepper, para França ou Itália é mesmo preciso ir com tempo. Aguento a conduzir 8 ou 9 horas, mas tem que se fazer uma aragem elo meio. Depois, dormir bem a noite. Nunca cheguei a Itália, mas na viagem em que fui a Carcassone, ainda fui a Cannes que fica muito perto de Itália (depois arrependi-me porque Cannes comparado com o que tinha visto antes foi uma desilusão). Portanto, conta com uma noite em Espanha. Se fores por Badajoz almoço em Madrid, e depois a noite passada já perto de França. Depois, já não custa nada, mas à vinda tem que se fazer a mesma coisa. Eu saio de cá com o percurso feito, e assim evita-se improvisações que por vezes nos atrasam :)

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  5. Adoro estas viagens de carro que nos proporcionam conhecer todas as "capelinhas" e quantas quisermos.
    Não andei tão para cima como nesta viagem foste. Fizemos a via dos Pirinéus até à zona de Languedoc, onde ficamos em Carcassone e visitamos outras terrinhas por lá. Depois fomos para a Provença e Côte d'Azur, mas fiquei com vontade de numa próxima passar por alguns dos sítios que mostras:)
    Que saudades de uma boa viagem por essas estradas fora...

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    1. Também andei por aí, Mesmica. Mas não gostei de Cannes, foi tempo perdido. Devia ter optado por Saint Tropez, ou ter ido para o interior, para Aix e Avignon. Para a próxima vou a Lyon e a seguir faço o norte de Itália :)

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    2. Gostei bastante de Avignon. Recomendo :)

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  6. Uau, que lugar encantador, cheio de história. Amei a arquitectura.

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    1. É linda, aquela região. E todas as aldeias e vilas têm castelos e igrejas maravilhosas, S* :)

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  7. Bom, eu nunca gostei de andar de avião! Mas uma viagem tão longa de carro assim nunca fiz. Embora a Paris fosse de camioneta, quando acabei o curso, mas essencialmente por ser muito mais barato, e já se sabe que ex-estudante, antes de começar a trabalhar "a sério" não tem muito dinheiro no bolso... :)

    De qualquer das formas gostei desta visita guiada por terras que só vislumbrei muito vagamente nas tais viagens de camioneta, ou nem isso! Paris, está claro, adorei! :)))

    Já há alguns tempos que tenho um disco externo ao PC, onde salvaguardo as fotografias, para casos desses em que o PC avaria de vez, o que também já me aconteceu. Porque para lá da chatice do PC, ia ficar muito mais chateada de perder as fotos... ;)

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    1. Já fiz viagens longas de carro, Teté. Um dia vim de Pau a Lisboa num dia. São quase 1.200 km, eheheh. E para ir aqueles lugares, só assim, ou de avião até Lyon ou Bordeaux e aí alugar um automóvel.
      Paris, é a minha cidade do coração. Se pudesse, comprava lá um apartamento, e a minha vida era 6 meses em Paris e 6 meses em Lisboa :)

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  8. Voyage fantastique! J’aime bien la langue et la culture françaises :)

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    1. PE, só quando não pode ser de outra maneira esmo :)

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  10. Vic, que fotos fabulosas, não conheci essas vilas/aldeias devem ser lindas.

    Também gosto de fazer viagens de carro, conhecemos lugares magníficos e que não estávamos à espera, a maior viagem de carro que fiz foi em 2007 e passámos por Espanha, França, Suiça, Alemanha, Áustria, Eslováquia, Eslovénia, Itália e França, posso dizer que foi espectacular!

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    1. Ando com uma vontade louca de voltar, RST :) Para a próxima vou até Lyon de avião e alugo lá um carro para percorrer o sudeste :)

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  11. Brutal, meu caro. Que lugares magníficos. E sou como tu, adoro viajar de carro, conhecer lugares, vilas, aldeias. Ter a sensação de liberdade, o poder de decisão, hoje aqui, amanhã ali, por esta estrada e não por aquela.

    Aguardo mais posts sobre as tuas viagens ;)

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    1. Francisco, gozei muito estas viagens mesmo. Um dia destes venho complementar :)

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  12. Vic, imperdoável é teres ido a Cahors e não teres parado em Montauban ou Toulouse (Midi- Pyrennées) :)

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    1. Mónica, Montauban não estava realmente nos planos. Toulouse estava fora porque o fito era visitar aldeias e vilinhas. Mas voltei depois :)

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    2. E além de Toulouse, fui ainda a Pau :)

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    3. Então se queres aldeias e vilinhas tens que visitar Aucamville, Reyniès, Nohic, Villemur, Fronton (dizem que se faz bom vinho nesta última), etc... :)

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Eu leio todos com atenção. Mas pode não ser logo, porque sou uma pessoa muito ocupada a preencher tempos livres!