segunda-feira, 7 de maio de 2012

De como um programa de rádio muito interessante, se pode transformar num programa de rádio muito interessante, com alguns momentos irritantes

Sou um ouvinte atento da TSF desde que esta emissora existe - de há uns tempos para cá gravo também alguns podcasts de outras emissoras - dada a elevada qualidade da sua informação e de alguns programas. Destes, sou seguidor de primeira hora do "Governo Sombra".
Considero o Carlos Vaz Marques um dos nossos melhores radialistas, e tenho uma simpatia muito especial - creio que partilhada por alguns de vós - por Ricardo Araújo Pereira, actualmente, e em minha opinião, um dos nossos humoristas de topo. Da restante composição do "Governo", conhecia alguma coisa de Pedro Mexia, e nada de João Miguel Tavares, que depois soube ser director da Time-Out.
Desde que iniciei este blog, decidi que só muito esporadicamente afloraria questões políticas, o que não quer dizer que não tenha as minhas ideias sobre o assunto, algumas, creio que até subliminarmente, vão passando nalguns dos meus textos. E obviamente não me escuso a fazer comentários que abordem temas actuais da política, embora raramente o faça.
O GS é um programa de sátira política, e foi assim que sempre o entendi. À medida que o tempo decorria, foi vindo ao de cima a preferência política de cada um dos seus componentes, excepto de Carlos Vaz Marques que nunca o deixou transparecer, e muito bem, dado o seu papel de moderador. Toda a gente conhece a antiga militância de RAP no PC, Pedro Mexia declara-se monárquico e de direita, e JMT, de direita. Tudo normal. Ouço-os com agrado: RAP põe nas suas intervenções o humor que todos lhe reconhecem, sem abdicar das suas convicções, PM é um homem inteligente e culto, e reconheço-lhe agora um fino sentido de humor. Quanto a JMT, até há coisa de um ano e pouco atrás, era um comparsa mediano e sem grande fulgor em qualquer faceta. A única marca distintiva que ostentava era um ligeiro defeito na voz. A determinada altura, JMT como muitos portugueses, iniciou uma cruzada anti-Sócrates, nada que eu estranhasse afinal uma larga percentagem de portugueses não gostava e não gosta do ex-primeiro ministro. O que estranhei, foi que JMT tivesse levado esse campanha a um quase ódio histérico contra Sócrates, porque me parecia tal acrimónia, um pouco extrema num programa que costuma abordar os temas seriamente, mas sempre com uma dose de humor qb.
Passadas as eleições, Sócrates derrotado, supus que a sanha de JMT passasse. Mas não. Vai não vai, Sócrates vem à baila, e Tavares salta-lhe ao pescoço. Se a coisa se ficasse por aqui, eu nem me pronunciaria, embora não entenda o prolongamento temporal de alguns ódios de estimação. O problema é que, não tendo o actual governo melhorado a vida dos portugueses, pelo contrário, como se vê tanto pelas medidas dacronianas impostas à população em geral, como ao número de desempregados que vai engrossando, eis que JMT se arvora agora em defensor feroz das políticas actuais, que afinal são em tudo semelhantes às que vigoravam antes e que ele tanto criticava.
E é aí que reside o problema. O que eu pensava tratar-se de uma questão ideológica, afinal mais não era que uma querela pessoal em relação ao ex-primeiro ministro, o que retira toda a credibilidade às suas intervenções. Passando de crítico acérrimo a apoiante das mesmas políticas sociais, JMT não passa de um yes man do poder vigente, infiltrado num governo que se quer sombra.
Continuo a apreciar as intervenções de CVM, de RAP e de Mexia. Em contrapartida, as de Tavares, incomodam-me, como sempre me incomodaram os de todos os serventuários do poder. Como já uma vez referi, irritam-me os acólitos. Vem-me sempre ao nariz o ambiente de claustro.

12 comentários:

  1. Pois... José Sócrates foi o político português que, tanto quanto me lembro, mais ódios pessoais suscitou.Apesar de algumas asneiras que fez, atingiu mtºs interesses instalados. Não lhe perdoam.

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    1. Meu caro, a questão do Sócrates nem me incomoda por aí além. As pessoas têm as opiniões que têm, estão no seu direito. Agora, o que já me incomoda mais é o ódio levado a extremos, e sobretudo a falta de coerência de algumas pessoas . Neste caso, chego a achar vergonhoso.
      Abraço

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  2. Oiço pouca rádio, nem sabia da existência desse programa. Normalmente também não vejo programas televisivos de política, embora veja com alguma frequência "O Eixo de Mal", que é assim uma espécie de noite da má-língua politiqueiro. E por vezes também fico irritada com as opiniões facciosas de uns ou outros, qualquer que seja a sua orientação política...

    Agora cretinos desses, que destilam ódio ao ex-PM, estão a começar a ser anedóticos. Então o homem vai fazer um ano que foi corrido, o outro tem feito muito pior que ele com o "amén" do PR, e a culpa ainda é dele? Até que geração é que isso se vai prolongar?! Não, tal como tu também não tenho pachorra para acólitos. Ainda menos quando se metem a "opinion makers"... ;)

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    1. Teté, o programa é excelente, é uma pena a presença daquele tipo. Nenhum deles gosta do Sócrates, e eu aceito isso, até porque também não vou muito à bola com ele, e além do mais as pessoas têm direito a expor as suas opiniões, as aquilo é ridículo. Já enjoa.
      Mas percebe-se, o rapaz quer fazer um investimento na Praça da Ribeira, portanto precisa de umas cunhas no governo

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  3. Não sigo assim tão ferozmente o programa mas já ouvi o senhor a gozar o Socas, é um facto. Não posso deixar de achar aquilo um exagero. E se afinal esses ataques têm motivações pessoais, passa do exagero ao ridículo.

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    1. Podes crer S*. Aquilo já mete nojo. E passar o tempo a lamber as botas ao Coelho ainda pior. Não faz mesmo falta nenhuma no programa, só estraga ;)

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  4. Como eu li em qualquer lado: um humorista, um intelectual e um que não é uma coisa nem outras e pensa que é ambas!

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    1. Pois, Moyle. Nessa altura já eu andava farto de o ouvir :)

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  5. Concordo totalmente, apesar de já não ouvir muito o programa. O RAP é sempre uma lufada de ar fresco, o Mexia, apesar de não ser do meu quadrante, é um tipo inteligentíssimo e de fino humor. Agora o JMT...não há paciência. E sim, tem uma questão pessoal com o socrates, que o processou por causa de um artigo. Apesar de achar que foi idiota por parte do Socras, o outro devia ter levado a coisa com mais elegância.

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    1. Izzie, eu também não me enquadro no quadrante político do Mexia, mas isso nem me interessa. É inteligente, irónico, culto, é uma pessoa que admiro. A minha admiração por uma pessoa, está para lá da política.
      Mas o JMT é irritante com a sua incansável catilinária. Nem quero saber se ele não gosta do Sócrates. Eu também não aprecio. Agora, o que acho é que aquilo já vai a mais. Mas o pior é a posicão agora adoptada em relação ao actual governo. Não que não se possa simpatizar com o PPC e restante cambada. Mas num programa daquele género, a isenção é essencial, e não fazer o papel de lambe botas que ele faz. Ainda por cima, nem dotado do espírito crítico e ironia dos outros dois ele é. E é óbvio que o programa não deve servir para ajustes de contas pessoais.

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  6. Guerrinhas e ódios pessoais estragam esse tipo de programas mesmo. Sim, o JMT irrita-me solenemente. Mais do que o Mexia que mexe (salvo seja!) um bocado comigo mas a quem reconheço um sarcasmo e ironia deliciosos. Tudo o que é excessivo acaba por ter efeito contrário ao pretendido. Se o Sócrates vier à baila nós já sabemos quem é que se vai passar dos carretos e para ouvir/ ver programas previsíveis via as novelas da TVI.

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    1. Sim Mesmica, o Mexia merece-me toda a consideração, apesar de estar muito longe de mim politicamente. mas com o JMT já não posso. É mesmo um lambe botas do governo, e serve-se do programa para vingançazinhas pessoais. Uma lástima.

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Eu leio todos com atenção. Mas pode não ser logo, porque sou uma pessoa muito ocupada a preencher tempos livres!