A minha relação com a fé, assemelha-se muito à luz de um farol: ora se vê, ora não se vê. Ao caso, ora existe, ora não existe.
Por exemplo: às 3ªs e 6ºas, dias em que anda a tômbola do Euromilhões, eu sou um devoto cheio de fezada. Já nos outros dias, tenho muitas dúvidas, sendo que ao sábado e à quarta, sou mesmo um descrente absoluto.
É como os pasteis de massa tenra da minha tia Etelvina: umas vezes são fofos e saborosos, outras, saiem encarquilhados e duros e se atirados à cabeça de alguém, partem-na de certeza.
Desde já, uma declaração de intenções: uso o nome "Deus" por uma questão de comodidade - até porque a maioria dos portugueses são cristãos - e de modo algum desejo melindrar devotos de outras religiões, pelo que, onde se lê essa palavra, qualquer um é livre de a substituir por Allah, ou Jeova, ou Buda ou o que quiserem.
Dito isto: naturalmente fui desde novo instruido nesta religião por uma questão de tradição, e porque a chibata com que a minha madrinha - beata de todas as horas - zurzia todos os que fossem contra as suas crenças, era bastante convincente. E comecei a frequentar a catequese aos 6 anos, onde uma senhora anafada e de buço me ensaiava e a mais uns 4 ou 5 para a 1ª comunhão. Esta senhora, também tinha uma chibata.
Mas passados uns tempos, teria eu uns 7 anos, a fé em algo de transcendente que me pretendiam incutir, sofreu um rude golpe: descobri que o Pai Natal era o meu pai. Ora eu sempre me convencera que o Pai Natal era um reformado que arranjara um biscate como moço de recados do Menino Jesus, que lhe fornecia umas roupas patuscas, um trenó com renas, e uns sacos com brinquedos e doces para distribuir pelos meninos.
Afinal, o Menino Jesus era um explorador dos oprimidos, neste caso, do meu pai que, coitado, já tinha 2 empregos e não precisava de mais um part-time não remunerado. Para cúmulo, descobri que era da algibeira do meu pai que saía o dinheiro dispendido na compra dos presentes que me apareciam no sapatinho, o que fazia do Menino Jesus um capitalista sem escrúpulos. Esse foi o primeiro dia em que pensei em mudar de religião, mas quando a minha mãe me disse que nas outras religiões não havia Natal e, consequentemente prendas, tive que relevar aquela aldrabice. Além disso, a minha madrinha ainda manuseava bem a chibata.
Ainda fiz a 1ª comunhão, felizmente sem o fatinho branco - o meu pai, que nunca foi muito de religiosidades, disse logo que comunhão ainda vá lá, mas não queria panasquices - e depois de uma confissão em que omiti umas quantas coisas. Entretanto o meu padrinho reformou-se e a minha madrinha foi para a terra com ele, pelo que me afastei um pouco da religião.
No liceu, porém, a ruptura foi definitiva no dia em que o meu professor de Religião e Moral, me marcou uma falta de castigo só porque adormeci naquela parte em que ele contava a aldrabice do Mar Vermelho se abrir ao meio. Foi então que decidi ser ateu. Até por uma questão de estatuto.
Como referi, quando apareceu o Euromilhões - aquando do totoloto, já a coisa tremelicara - passei de ateu a agnóstico, mesmo com tendência para optar por uma religião. Só que a coisa é difícil: gosto dos sapatos do Papa, o que é um ponto a favor da religião católica. Mas ao mesmo tempo, nunca esperei que os padres, especialmente os irlandeses. levassem até tão à letra a tirada atribuida a Jesus "deixai vir a mim as criancinhas". Mas também gosto de ver os fatos do Amid Karzai e a perspetiva de vir a ter várias mulheres, o que me faz vacilar. Porém, e para complicar, gosto da cor laranja, cânticos e campainhas, pelo que não digo não a me tornar arekrishna, embora me sinta um bocado desconfortável com a salada à solta. Portanto, lá está, encontro-me em mais um dilema.
Mas é só decidir um caminho, porque ontem reflecti e cheguei à conclusão que tem que ter havido alguém superior a criar-nos. Não sou um evolucionista - o Toni Ramos não é o bastante para me convenvcer que descendemos dos macacos - e só preciso de uma luz, até porque a perspectiva de arder no inferno não é nada agradável. Tenho que me render à mente superior de um deus qualquer. Um deus que em tudo pensou. Até nas orelhas. Claro nos podia ter criado com dois pequenos orifícios, um de cada lado da cabeça, mas depois onde é nós pendurávamos os óculos?
É preciso ter vistas largas
Por exemplo: às 3ªs e 6ºas, dias em que anda a tômbola do Euromilhões, eu sou um devoto cheio de fezada. Já nos outros dias, tenho muitas dúvidas, sendo que ao sábado e à quarta, sou mesmo um descrente absoluto.
É como os pasteis de massa tenra da minha tia Etelvina: umas vezes são fofos e saborosos, outras, saiem encarquilhados e duros e se atirados à cabeça de alguém, partem-na de certeza.
Desde já, uma declaração de intenções: uso o nome "Deus" por uma questão de comodidade - até porque a maioria dos portugueses são cristãos - e de modo algum desejo melindrar devotos de outras religiões, pelo que, onde se lê essa palavra, qualquer um é livre de a substituir por Allah, ou Jeova, ou Buda ou o que quiserem.
Dito isto: naturalmente fui desde novo instruido nesta religião por uma questão de tradição, e porque a chibata com que a minha madrinha - beata de todas as horas - zurzia todos os que fossem contra as suas crenças, era bastante convincente. E comecei a frequentar a catequese aos 6 anos, onde uma senhora anafada e de buço me ensaiava e a mais uns 4 ou 5 para a 1ª comunhão. Esta senhora, também tinha uma chibata.
Mas passados uns tempos, teria eu uns 7 anos, a fé em algo de transcendente que me pretendiam incutir, sofreu um rude golpe: descobri que o Pai Natal era o meu pai. Ora eu sempre me convencera que o Pai Natal era um reformado que arranjara um biscate como moço de recados do Menino Jesus, que lhe fornecia umas roupas patuscas, um trenó com renas, e uns sacos com brinquedos e doces para distribuir pelos meninos.
Afinal, o Menino Jesus era um explorador dos oprimidos, neste caso, do meu pai que, coitado, já tinha 2 empregos e não precisava de mais um part-time não remunerado. Para cúmulo, descobri que era da algibeira do meu pai que saía o dinheiro dispendido na compra dos presentes que me apareciam no sapatinho, o que fazia do Menino Jesus um capitalista sem escrúpulos. Esse foi o primeiro dia em que pensei em mudar de religião, mas quando a minha mãe me disse que nas outras religiões não havia Natal e, consequentemente prendas, tive que relevar aquela aldrabice. Além disso, a minha madrinha ainda manuseava bem a chibata.
Ainda fiz a 1ª comunhão, felizmente sem o fatinho branco - o meu pai, que nunca foi muito de religiosidades, disse logo que comunhão ainda vá lá, mas não queria panasquices - e depois de uma confissão em que omiti umas quantas coisas. Entretanto o meu padrinho reformou-se e a minha madrinha foi para a terra com ele, pelo que me afastei um pouco da religião.
No liceu, porém, a ruptura foi definitiva no dia em que o meu professor de Religião e Moral, me marcou uma falta de castigo só porque adormeci naquela parte em que ele contava a aldrabice do Mar Vermelho se abrir ao meio. Foi então que decidi ser ateu. Até por uma questão de estatuto.
Como referi, quando apareceu o Euromilhões - aquando do totoloto, já a coisa tremelicara - passei de ateu a agnóstico, mesmo com tendência para optar por uma religião. Só que a coisa é difícil: gosto dos sapatos do Papa, o que é um ponto a favor da religião católica. Mas ao mesmo tempo, nunca esperei que os padres, especialmente os irlandeses. levassem até tão à letra a tirada atribuida a Jesus "deixai vir a mim as criancinhas". Mas também gosto de ver os fatos do Amid Karzai e a perspetiva de vir a ter várias mulheres, o que me faz vacilar. Porém, e para complicar, gosto da cor laranja, cânticos e campainhas, pelo que não digo não a me tornar arekrishna, embora me sinta um bocado desconfortável com a salada à solta. Portanto, lá está, encontro-me em mais um dilema.
Mas é só decidir um caminho, porque ontem reflecti e cheguei à conclusão que tem que ter havido alguém superior a criar-nos. Não sou um evolucionista - o Toni Ramos não é o bastante para me convenvcer que descendemos dos macacos - e só preciso de uma luz, até porque a perspectiva de arder no inferno não é nada agradável. Tenho que me render à mente superior de um deus qualquer. Um deus que em tudo pensou. Até nas orelhas. Claro nos podia ter criado com dois pequenos orifícios, um de cada lado da cabeça, mas depois onde é nós pendurávamos os óculos?
É preciso ter vistas largas
*- A imagem que escolhi hoje é um tanto ou quanto efeminada, não é?
Bom, eu sou católica e gosto de rezar, embora reze à minha maneira... mas tenho de concordar que muito daquilo é treta. O Deus em que eu acredito não é contra o casamento gay, por exemplo. O Deus em que eu acredito ama todos por igual e respeita todos os amores, mesmo que fujam ao "normal".
ResponderEliminarEste teu texto consegue ser sério e fazer-me rir ao mesmo tempo. E sim, a imagem é efeminada.
Isso cá não sei, S*. Não tenho confiança com Ele (repara que hoje é 6ª e eu até já escrevo Ele com maiúscila) suficiente para discutir essas matérias que dizem respeito às opções sexuais de cada um :)
EliminarQuanto á imagem, é o meu Stairway to heaven
andas a viajar na maionese, ai andas, andas :P
ResponderEliminare a imagem lembra-me o meu catecismo. eu fiz a comunhão solene. depois vi outra luz, a do solinho, e decidi procrastinar em vez de passar os domingos de manhã enfiada numa sala bafienta.
e olha, hoje acredito em algumas coisas, noutras não.
mas olha que isto de pedir sinais lá para cima deve ser uma chatice. é que se lá estiver alguém deve pensar que somos todos tolinhos...
ml, ainda me hás-de dizer como é que se viaja na maionese, porque quero ir a Paris e os bilhetes de avião estão caros :).
EliminarNunca ouviste aquela de "só se lembra de Sta. Bárbara quando troveja"? No fim, somos todos muito parecidos (mulheres com mulheres e homens com homens, e o Castelo Branco com ele próprio :) )
Eu não consegui deixar de dar umas boas gargalhadas à medida que ia prosseguindo na leitura da tua reflexão acerca de Deus ou fé ou qualquer outro ponto específico que se pretenda evidenciar.
ResponderEliminarPara mim a forma como vêem Deus, (pelo menos a maior parte dos católicos e estou a utilizar, tal como tu no texto a palavra Deus por uma questão de respeito aos devotos), é totalmente distorcida e cheia de preconceitos totalmente abomináveis. Ainda não encontrei nenhuma religião que achasse ser adequada à minha personalidade e que defenda alguns dos meus pontos de vista e princípios, o que me leva a um ponto fulcral: a religião não deveria ser uma matéria imposto a ninguém, pelo que existem diferentes tipos de fé, não necessariamente ligados a uma entidade superior.
Beijinhos
Patrícia
P.S: Obrigada pela visita ao meu blog.
Isso é verdade, perdemos a nossa vida toda em cogitações sobre qual a adequada e acabamos por escolher a que está mais à mão, Patrícia :)
EliminarObrigado eu :)
De acordo com a Elisinha e a Maria José, duas das minhas catequistas, a prova de que Deus existe e que dele descendemos é muito simples: não há macacos loiros, nem ruivos.
ResponderEliminarA vida era tão mais simples quando eu tinha 10 anos :D
Tens razão, bluesy. Mas a culpa é nossa que passamos o tempo a complicá-la :)
EliminarI do believe...
ResponderEliminar(e a foto, de facto é um tudo nada nhó nhó :D
Eu também, Apple. Às vezes :)
EliminarA imagem, já referi em cima é a minha Stairway to heaven
Ahahah, fartei-me de rir com o texto! Mas pronto estás quase lá, no caminho da reconversão: uma fezada dessas dois dias por semana deve querer dizer qualquer coisa! Confesso que tendo passado um percurso idêntico (sem chibata, embora com umas quantas réguas com outras funções) a minha crença foi tão abalada, que nem jogo no Euromilhões. Aí sim, é que me convenciam: se o ganhasse sem jogar... era um autêntico milagre! :)))
ResponderEliminarAssim não vale, Teté. Querias mais nada? Ando eu aqui a contar os tostões para jogar, e tu é que ganhavas? :)
EliminarMuito bom, magnífico texto! hoje é dia de acreditar.
ResponderEliminarÉ verdade, RST. É dia de gritar: "É hoje!É hoje!" :)
EliminarOh, yessss....
ResponderEliminarÉ tudo muito relativo, sabe?
Abr.
Catarina
É mesmo, Catarina. Até a vida... :)
EliminarEu também usei fatinho branco na 1ª comunhão. E as fotos com meias de renda comprovam-no. Tempos difíceis aqueles.
ResponderEliminarSó não fiz companhia aos padrecos porque parecia antever o que de lá vinha, de resto até catequese dei.
E depois, abri os olhos. E conheci miúdas. :)
Muito fixe a prosa, V. :)
Bem Troll, percorreste todos os passos do calvário LOL!!!
EliminarNem sabes de que te safaste quando optaste por fugir ao seminário...
Obrigado e as melhoras :)
meias de renda, troll??
Eliminartxi.... :P
Bem ml, eu tinha feito de conta que não tinha dado por nada...
EliminarEfeminada é favor, é muito rota, mesmo. Quanto à religião, "ateu" é um nome feio. Prefiro "agnóstico", pois dá sempre a possbilidade de dizer "estás a ver, eu bem dizia que acreditava em algo".
ResponderEliminarAbraço!
É, pode-se dizer que é um bocado rota lol!!
EliminarTambém sou agnóstico, como deve ter ficado claro no post. A sério, é uma posição cómodo, mas tomei-a por convicção (ou por falta dela...)
Abraço
Eu tomei-a convictamente. Era, como a maioria, católico "deixa andar". Até que vi o filme "O nome da rosa", que me fez colocar tudo em causa. E quando finalmente comecei a pensar por mim e não pelo que me impingiam, percebi que a religião católica é uma seita como todas as outras.
ResponderEliminarAbraço!
Não sei se ficou bem expresso, mas eu também tomei a decisão convictamente, Rafeiro. Esse filme é excelente, mas nem seria necessário vê-lo para tomar decisões de ordem teológica. Aliás, a melhor opção que temos (e devemos sempre) tomar, é por tudo em causa.~
EliminarAbraço
Um ateu diz "não há provas de que deus exista".
ResponderEliminarUm crente diz "mas também não há provas de que não exista" (os crentes são tão negativistas, credo! que negação do próprio conceito de fé!).
Um agnóstico diz "who the fuck cares?".
Pois, Rachelet. A última frase é a minha cara, eheheh
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