segunda-feira, 26 de março de 2012

Da problemática das relações cliente/empregado de mesa de restaurante ou similar


É sabido que ao longo dos tempos, a relação cliente/empregado de mesa de restaurante ou similar, tem sido não raras vezes tensa. Sabe-se também que tal tensão, é em grande parte causada pelo modo como o cliente interpela o empregado de mesa.
Analisemos as várias formas habitualmente usadas pelo cliente e reacção do empregado:
- Acena e diz “Ei!”. Esta é uma forma pouco elegante de se dirigir ao empregado: faz demasiado alarde, o empregado não gosta e faz de conta que não ouviu.
- Acena e diz “Oi!”. Esta é uma maneira arrogante do cliente se manifestar, e ainda pior que a anterior. Dela irá resultar que o cliente irá ser o último a ser servido.
- Acena, diz “Oi! e acrescenta “Criado”: "Oi! Criado!". Uma das piores. Ninguém gosta de ser chamado de criado - até as sopeiras já são “empregadas domésticas” - e assisti a, pelo menos uma cena inopinada, provocada por este tipo de chamamento, numa casa de pasto na Rua dos Correeiros, quando um alarve de 120 kilos a utilizou para chamar o empregado. Este respondeu-lhe “Vai chamar criado à p$%a da tua mãe, oh c%&%ão!” (como se verifica, o empregado nem sequer cuidou da sintaxe), e voltou-lhe as costas. O badocha levantou-se e foi por detrás dele e deu-lhe um calduço. É óbvio que a confusão estava estabelecida e a única coisa positiva que resultou do incidente, foi eu ter saído de lá sem pagar o jantar.
- Há ainda o vulgar “Pssst”, que em restaurantes grandes não surte qualquer efeito, uma vez que não é audível. Só o aceno, é igual, e ainda por cima, se todos decidirem recorrer ao mesmo sistema, o restaurante fica a parecer uma estação de comboios de província, com a família toda a despedir-se do pobre rapaz que vem à procura de trabalho em Lisboa. Dois apelos à atenção do empregado absolutamente inúteis, portanto.
Tem-se procurado resolver o problema. Houve já a ideia do “bater de palmas”, à semelhança do que se pratica em alguns locais para chamar do exterior, as pessoas que eventualmente possam estar dentro de uma casa, tendo mesmo alguns restaurantes chegado a exibir á porta um cartaz com os dizeres: “Para chamar o seu empregado de mesa, bata palmas. Será atendido de imediato”. A ideia foi rapidamente posta de parte: os restaurantes começaram a ficar demasiado barulhentos e a parecer salas de prática de flamenco, mas sem ciganos nem sapateado.
Ora bem, penso que encontrei solução para este transcendente problema civilizacional: usarem-se umas bandeirinhas mais ou menos do tamanho daquelas que em alguns países são distribuídas às criancinhas e aos rústicos para eles agitarem quando são visitados por chefes de estado estrangeiros. As bandeirinhas terão várias cores e serão usadas conforme o que o cliente no momento desejar.
Exemplificando: o cliente chega, senta-se, empunha a bandeira vermelha durante 10 segundos - tempo calculado suficiente para um dos empregados de mesa se aperceber da sinalética do cliente - e em seguida, metê-la-á erecta num suporte apropriado localizado no centro da mesa, e aí permanecerá até ser atendido. O empregado chegará à mesa com o sorriso habitual, entregará a carta, fará uma ou outra sugestão sobre o prato aconselhado pelo chefe e o vinho apropriado, e retirar-se-á, dirigindo-se com o pedido à cozinha. A bandeirola vermelha será substituída por uma de cor amarela - símbolo da fome - se a refeição demorar muito a chegar à mesa. Quando tudo estiver a andar, a mesa ostentará uma bandeira azul, sinal que tudo está a decorrer bem. Substitui-la-á mais tarde, por uma cor de laranja que significa estar já à espera da carta das sobremesas. Na altura em que o empregado chegar com a mesma, convém só deixá-lo ausentar com o pedido já em sua posse. Finalizada a sobremesa, o cliente acenará uma bandeira castanha, o que significa que deseja café. O empregado virá perguntar se deseja algum digestivo para acompanhar, e retirar-se-á a fim de satisfazer o pedido.
E pronto, refeição finalizada. É nesta altura que o cliente acenará com a bandeira verde - sinal de esperança que a conta não seja excessiva - a qual irá substituir a castanha no centro da mesa.
Enfim, e chegada a conta, o cliente terá duas bandeirolas á sua disposição: a negra, que significará que achou que a conta era um roubo (adeus gorjeta, pensará de imediato o empregado), ou uma branca, sinal de que o cliente está satisfeito, e que o empregado poderá contar com uma generosa gorjeta de pelo menos 1€. De qualquer dos modos, o empregado virá à mesa cobrar.
Como se verifica, é um sistema prático, intuitivo e silencioso, que fará dos restaurantes, locais mais pacíficos e com o serviço mais eficiente.
Um aviso: a patente do sistemajá se encontra convenientemente registada.

Nota: - Cheguei a pôr a hipótese de substituir as bandeirinhas por uma espécie de candeeiro - cilíndrico com aproximadamente 5cm de raio e 30 cm de altura, cuja ponta superior seria ligeiramente arredondada - colocado no centro da mesa, e com vários interruptores cada um fazendo acender uma lâmpada de cor diferente (tal como as bandeiras), na extremidade superior do candeeiro, mais ou menos como acontecia com a ponta do dedo do ET. Porém, receei que esta versão do meu sistema pudesse dar lugar a comentários menos próprios, especialmente quando o cliente acendesse a luz vermelha, e acabei por desistir, optando pelas bandeirinhas.

28 comentários:

  1. Que trabalheira, mais vale comer em casa.

    ResponderEliminar
    Respostas
    1. Opá, vocês mulheres nunca estão satisfeitas: dizem que não gostam da lida da casa, e quando um gajo vos leva a jantar fora, dizem que dá muito trabalho? :)

      Eliminar
  2. Ahahah, quando estava a ler isto, lembrei-me do ET e do seu dedinho? Porque seria?

    Tiveste na tasca do Ismael e nem disseste nada? Ai, se ele ao ler isto percebe que desapareceste sem pagar, pois, estás feito (e duvido que seja ao bife)! Ca gande açorda! :)))

    ResponderEliminar
    Respostas
    1. Foi do feitio dos candeeiros, Teté.
      (há que saber aproveitar as ocasiões. mais um jantarzito de borla :) )

      Eliminar
  3. V, belo sistema! Mas acho que os candeeiros eram mais eficazes! ;)

    ResponderEliminar
    Respostas
    1. Se calhar eram, Menino. Mas poderiam dar origem a comentários maldosos, qu'isto há gente para tudo :)

      Eliminar
  4. Eheheh eu alinhava nisso se a eficácia for comprovada :)

    ResponderEliminar
    Respostas
    1. Claro que é, TR. Fora a parte da conta, já experimentei em casa :)

      Eliminar
    2. ahahahah Ensaios viciados não contam, são necessárias experiências em campo!

      Eliminar
    3. lol! Tens razão, mas não tenho restaurante para experimentar in-loco!

      Eliminar
  5. Ahahah... Está bem pensado sim, senhor. E como cada vez é mais caro comer fora, sempre dá um ar festivo à coisa. Mas olha que já há um sistema que é capaz de fazer concorrência às bandeiras: são botões que se colocam nas mesas e permitem chamar o empregado e pedir a conta. Não chega aos calcanhares das bandeiras, claro, mas… :D

    ResponderEliminar
    Respostas
    1. Nada chega aos calcanhares das bandeiras, Anna. Já viste a alegria que aquilo empresta a uma sala? Fica a parecer um terminal de aeroporto, com os tipos com as bandeirinhas a fazer sinais aos aviões :)

      Eliminar
  6. Acabo por achar todas as formas um bocado pedantes... limito-me a erguer o braço e a sorrir suavemente quando o empregado finalmente repara em mim.

    ResponderEliminar
    Respostas
    1. E se ele demora muito S*? E se o teu namorado não gostar que sorrias suavemente para o empregado? hein? hein?

      Eliminar
  7. Lembra-me o meu post das bandeiras náuticas. Se com uma bandeira conseguimos dizer: "sai da frente que tenho um homem a fazer snorkeling aqui em baixo à esquerda", não vejo objecções à tua teoria. Podia até ser mais elaborada com bandeirecas para pedidos de sal, carne mais passada, caíu-me um talher...

    ResponderEliminar
    Respostas
    1. Opá, oh Alex, se já assim dizem que dá uma trabalheira, ainda querias mais bandeiras? Tás-me a gozar? :)

      Eliminar
  8. Acho que o ideal será fazer uma experiência piloto, Vic acho que vais ganhar o prémio empreendedor do ano, e as empresas que fabricam bandeiras também agradecem.

    ResponderEliminar
  9. este blog nunca desilude, tem sempre bom material aqui....eu yb ponho sp a mão no ar tipo escola, mas a ideia as bandeiras ou bandarilhas é imbatível de genial, no final se não gostaram do serviço, até podem espetar com a bandarilha ná nalga do empregado...(a nalga, a nalga--- suspiro--- pelo Troll)

    ResponderEliminar
  10. Esqueceste-te de uma forma de chamar o criado, perdão, empregado, o famoso "ó faxavor", tão em voga em certas terras.

    Quanto ao sistema das bandeiras, parece-me interessante, mas eu acrescentaria uma bandeira mais, cor de laranja com laivos amarelos, que é para demonstrar o que a comida causou no nosso aparelho digestivo. Abraço!

    ResponderEliminar
    Respostas
    1. Não, Rafeiro. O faxavor está na mesma faixa do "oi". Mais bandeirinhas, acho exagero. Há que incomodar o cliente só o essencial :)
      Abraço!

      Eliminar
  11. tens razão, godemichés luminosos não levariam muito longe a comunicação não verbal. poderia fazer maravilhas pelo marketing mas a galhofa desvirtuaria as virtualidades :)

    ResponderEliminar
    Respostas
    1. Pois era, Moyle. O restaurante ficava a parecer uma árvore de Natal, com tudo a acender e a apagar, lol!

      Eliminar
  12. Não sei... E abandonar todo um mundo de linguagem corporal? Como a preensão do indicador no polegar para pedir a conta? Ou dedilhar no ar com o indicador imitando uma máquina calculadora? Ou então o estalar dos dedos para nos tornarmos visíveis? Ou apontar para a garrafa para pedir mais uma ou levantar o cesto do pão? Bffffffffffff...

    ResponderEliminar
    Respostas
    1. Pois, Mesmica, são tudo dúvidas pertinentes e a mercer estudo aprofundado :)

      Eliminar
  13. Pior, pior é mesmo quando, no seguimento do nosso pedido, o empregado nos responde com um "Oi?"... Isso é que é mesmo, mesmo mau... Quanto às bandeirinhas, nada a opor. No fim, se a coisa não correr bem, até podemos fazer uma tourada :)))

    ResponderEliminar
    Respostas
    1. É mesmo, mas isso tem que ser um restaurante tasca mesmo Palmier. Oi? Saía logo disparado de lá :)

      Eliminar

Eu leio todos com atenção. Mas pode não ser logo, porque sou uma pessoa muito ocupada a preencher tempos livres!