domingo, 4 de março de 2012

Vistos e revistos - Ao domingo, um filme (I)

Posso dizer que nasci e fui criado (literalmente) num cinema. Daqueles à antiga, que exibiam filmes em reposição. Cadeiras pouco confortáveis, sem ar condicionado… Até determinada altura da minha vida, fui um consumidor desregrado: tudo o que aparecia eu via, fossem pretendentes a óscares ou filmes de 3ª categoria. E nunca saí a meio de um filme. Mesmo nas férias de Verão nas beiras, não perdia um serão de 2ª feira no salão de festas da aldeia, onde o sr. Abílio, um amante de cinema e projeccionista á moda antiga, que na sua carcomida Volkswagen pão de forma, percorria as terrinhas das redondezas com a velha projectora e as enormes latas de filmes para que nem daquelas recônditas partes a magia do cinema estivesse ausente, providenciava para que tivéssemos uma soirée diferente.
Talvez por isso, ao contrário do que acontece a muitos cinéfilos a quem é difícil eleger o seu filme de vida, para mim é extremamente fácil: Cinema Paraíso, de mestre Tornatore.
Talvez porque a minha relação de encantamento com o cinema se assemelhe de certo modo à que Totó com ele mantinha. E também porque tive a sorte de ter também eu, um Alfredo na minha vida.
Depois, Alfredo era interpretado por esse génio da representação que era Philippe Noiret e o filme uma pérola rara, sem mácula, retrato de uma sociedade italiana dos anos 40/50 mas que se podia perfeitamente adequar á nossa situação: a censura moralista e castradora, o poder da igreja, a indiferença do "progresso" face às relíquias do passado…
Curiosamente, e depois de décadas de bom cinema que a Itália nos trouxe, após Cinema Paradiso - realizado por Tornatore para simbolizar a “morte” das grandes salas de cinema - o filme transalpino parece ter caído em estagnação, da qual se salvam o supremo Nanni Moretti, os irmãos Taviani ou mais esporadicamente Begnigni, e a Cinecittà após a sua privatização em inícios dos 90s, serve mais o cinema estrangeiro e a televisão, do que propriamente aquilo para que foi criado: o grande cinema italiano.
Eu sei eu é recorrente para os cinéfilos falar-se em Cinema Paradiso. Toda a gente já viu Cinema Paradiso. Mas eu não podia iniciar uma rubrica dominical sobre cinema, sem o invocar pela milésima vez

9 comentários:

  1. Lamento informar-te que nem toda a gente viu "Cinema Paradiso" - eu não vi! Com muita pena minha, evidentemente! Escapou-me na altura, depois já toda a gente tinha visto, nas antigas salas de video (e depois de DVD) raramente estava disponível e, se estava, aqui o meu parceiro torcia o nariz, que não lhe apetecia ver...

    E no MEO também não está disponível! Mesmo não gostando de ver filmes no computador, qualquer dia terei de optar por essa solução... :)

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    1. Bem, isso é mesmo um pecado, Tété. É dos filmes mais memoráveis da história do cinema, e é facílimo encontrá-lo em DVD. É qualquer coisa de inolvidável.
      Vê o mais depressa que puderes, e vais realizar então, o que tens perdido :)

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  2. Com a música magistral de Morricone, este filme é "obrigatório" e torna-se inesquecível.

    E é bem capaz de ter uma das sequências finais mais belas de sempre.

    http://www.youtube.com/watch?v=wEFugVbzsSo

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    1. É mesmo Apple. Ainda hoje não consigo evitar uma emoção enorme, (uma lágrima no canto do olho :) ), quando vejo essa cena final, a cena de todos os bejos cortados pelo padre. Mas todo o filme é inesquecível, um turbilhão de emoções :)

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    2. E já agora, o Morricone é um mágico. As bandas sonoras dele são sempre inesquecíveis

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  3. Todas, sem excepção.

    Lembrei-me desta agora:

    http://www.youtube.com/watch?v=Jj5Xczethmw

    (e já resolvi a sobreposição musical no meu lado da blogo)

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    1. Essa é memorável, e o filme também. Está na lista para uma destas semanas :)

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  4. Adoro esse filme, é de uma beleza extraordinária, sempre que o revejo também verto umas lágrimas, sei que é um cliché, mas é um dos meus filmes favoritos.

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    1. A minha opinião é que os americanos nunca teriam "coração" para fazer um filme destes...

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Eu leio todos com atenção. Mas pode não ser logo, porque sou uma pessoa muito ocupada a preencher tempos livres!