As Aparências Iludem, Sim Senhor!

Como já uma vez aqui referi a minha proverbial distracção. Contudo, ao que parece, ontem não era um dos meus dias. Passo a explicar: 

Ontem cheguei do sul, desfiz as malas, fui às compras da semana, e, tudo arrumado, estava o dia no fim e cá por casa estava tudo cansado, pelo que decidimos não nos metermos na cozinha, ir jantar a um restaurante simpático que fica ali a Santos. Sentámo-nos, ainda era cedo, não havia muita gente. Porém, pouco depois de nos serem servidas as entradas, um casal nos seus vintes, sentou-se na mesa a nosso lado. E mesmo distraído como sou, a rapariga era daquelas que não passava despercebida, nem numa manifestação. Era uma morena cheia de curvas, e todas elas bem apertadas dentro de um vestido vistoso. Quando se sentou, deu de si a racha que a saia tinha do esquerdo, e a perna, coxa e não sei se mais alguma coisa, ficou ali à vista de toda a gente. No peito, o vestido tinha uns botõezinhos, e eu só estava a ver quando um deles saltava como uma bala, tal a pressão que os peitos faziam para sair. 

Os dois pareciam muito entretidos um com o outro, era um daqueles casais que passam o tempo a tratar-se por amorzinho, fofinha e outras coisas do género, ao mesmo tempo que acariciavam as mãos um do outro, ele chegou a beijar as dela, e aquilo às tantas estava de tal maneira que eu estava a ver que ele lhe saltava para cima logo ali em cima da mesa e à frente de toda a gente. 

Porém, foi sol de pouca dura. De repente, entrou um tipo daqueles de 1,90m e com o cabelo cortado curto que parecia uma escova, com uns biceps mais grossos que as minhas pernas na parte mais larga, e de camisa apertada até ao colarinho. O que o que estava por baixo parecia que queria romper e fazia com que os botões se repuxassem todos - o homem parecia todo ele que tinha sido soprado -  com uns peitorais que bem podiam fazer concorrência aos da rapariga do casal romântico. Que por acaso, mal o tipo atlético se sentou na mesa em frente à deles, inexplicavelmente, deixou de ligar tanto ao namorado, e olhava insistentemente para o matulão. 

O namorado é que já não estava a achar muita piada, mas também, ficava-lhe mal estar a fazer escândalo, até porque o outro não parecia muito interessado na rapariga. E mesmo que estivesse, se o rapaz decidisse tirar satisfações, levava uma trepa que saía de lá sem a namorada e todo torcido. 

Às tantas, entra um tipo igualzinho ao outro matulão, mas este com a camisa aberta até ao umbigo, deixando ver um peito ainda mais monumental que o do outro, no qual não se vislumbrava rasto de pêlo e que só era maculado na sua aridez por uma tatuagem enorme de um coração atravessado por uma seta e onde se lia bem distintamente "I love Leão". Julguei que o homem fosse um fanático do Sporting. Foi quando ele se dirigiu ao fundo da sala onde estava o outro com os olhos brilhantes de alegria e lhe disse: 

- Meu Leãozinho! e lhe espetou um prolongado beijo na boca. 

Bem, nem sei como é que hei-de descrever a cara da mocinha que tanto olhava para o tipo, mas acho que passou do espanto ao horror, passando pelo nojo, até que se recompôs e se virou para o namorado e fez um comentário qualquer que eu não entendi. Este, exibia um sorriso de triunfo, e a partir daí passou a tratar a namorado de um modo algo sobranceiro porque sentia que se não tinha sido desta, ela já não lhe escapava. E ele, que até ao começo do incidente só lhe bichanava aquelas coisas do “amorzinho”e “docinho” e “fofinha”, disse-lhe em voz alta (e grossa): 

- É para veres que sempre é verdade aquilo que se diz que as aparências iludem! 

O jantar não ficou barato, mas foi daquelas vezes que dei por bem empregue cada euro que me sacaram. Afinal, tinha sido mais uma grande vitoria do homem comum sobre esses tipos que fazem os anúncios de slips apertados e de perfumes da Dolce & Gabanna e acabam casados com cabeleireiros.