“Napoleão, quando trouxe do Egipto umas tantas múmias, quis que Cléópatra repousasse em Paris. Essa calamitosa rainha está sepultada no Jardim da Biblioteca, à Rua Vienne, perto da Bolsa. O seu pó faz parte do pó de Paris; e prende-se à nossa roupa, entra em nós. Talvez o erotismo de Paris seja devido às emanações dessa perigosa múmia!
(Pitigrilli) .
O impacto do primeiro encontro deixou marcas.
Apesar do banho frio, a noite de Pedro foi agitada. Já o jantar tinha sido estranho, com ele, que habitualmente era atento e expansivo com os pais, a mostrar-se muitas vezes alheio à conversa, facto que a mãe lhe fez notar. Desculpou-se com um dia complicado no escritório.
Felizmente era sábado, pensou quando se levantou, um pouco mais tarde e mais cansado que o habitual. Tomou o duche matinal, bebeu o sumo de laranja fresco acompanhado de um pãozinho com manteiga e saiu para a sessão de ténis com os amigos.
O fim de semana passou rápido e divertido, e quando se deitou no domingo à noite, Délphine não era mais que uma vaga lembrança lá bem escondida num cantinho da sua memória.
Porém, na 2ª feira o expediente acabou por se resolver mais cedo, estava a chegar o período de férias – em Agosto, Paris como que faz uma sesta prolongada – e as empresas pareciam já estar a limpar as secretárias. O tempo, demasiado quente para o que era normal para a época, ajudava nesse preguiçar antecipado.
Quando chegou a casa, a primeira coisa com que se deparou foi com Délphine em cima de um pequeno escadote e de costas para si, a limpar a parte superior do espelho do hall. A voz da mãe que falava ao telefone tinha abafado o ruído da chave a rodar na fechadura e da porta a abrir-se, pelo que a rapariga continuou imperturbável o seu trabalho, o que lhe permitiu observá-la. Movia-se com a graciosidade de uma pequena ave e o corpo ondulava ao sabor dos movimentos do pano do pó.
Notou-lhe na cabeça uma pequenina touca sobre o cabelo preso no cimo da cabeça como da primeira vez, que lhe dava um aspecto engraçado. E tinha realmente umas pernas bem torneadas, sem meias, e a posição em que se encontrava aliada ao facto de a saia da farda que a mãe lhe comprara lhe ficar ligeiramente curta, permitia-lhe ver mais do que esperava e sentiu-se um pouco envergonhado, quase um voyeur.
Pigarreou para anunciar a sua presença, e ela virou-se para ele, sorriu, mas não pareceu nada incomodada.
- Bonjour, M’sieu – enquanto a mãe que acabara o telefonema, chegava junto dos dois e o beijou.
- Boa tarde, filho. Pouco trabalho, já vi
- Bonjour, Délphine. Boa tarde, mãe. É verdade, estão-se todos a preparar para ir de férias – depois, não achou de bom tom continuar a falar em português à frente da rapariga, e disse: Excusez-moi, e ela sorriu-lhe fazendo-o entender que percebera.
Ainda ficou um pouco a falar com a mãe sobre trivialidades, enquanto pelo canto do olho ia seguindo os movimentos da rapariga. Achou-a ainda mais bela que da outra vez que a vira. Tinha uns olhos belíssimos e uma boca convidativa demais. E aquele pele, que devia ser macia como as asas de um anjo…e os seios, hum…os pequenos seios…
Foi até ao quarto, tomou um duche, vestiu-se desportivamente e voltou para a sala. Délphine estava a acabar a limpeza, e preparava-se para arrumar a roupa que passara na parte da manhã. Ele aproveitou e meteu conversa, perguntando-lhe como ia na Sorbonne. Ela respondeu-lhe positivamente, e para satisfação dele, verificou que a conversa lhe agradava, mesmo que lhe atrasando as tarefas. Quando ele se apercebeu que a ia demorar, desculpou-se, mas ela respondeu que dispunha de tempo – as aulas já há muito tinham terminado, estava de férias - e que ia só arrumar a roupa, e depois poderiam conversar.
Sentou-se na sala a ver televisão, mas a verdade é que não via nada: esperava ansiosamente por ela, e agradeceu aos deuses a ausência da mãe, que se tinha ido encontrar com uma amiga.
Quando ela voltou, já sem a sedutora fardinha, mas com um conjunto branco de saia e blusa, que não a deixava menos desejável. Estava muito elegante, uma autêntica parisienne.
Pediu-lhe para se sentar e ela anuiu.
Iniciaram então uma pequena conversa que lhe permitiu saber, que a rapariga, além de extremamente atraente, era bastante inteligente. E ele parecia não se cansar de ouvir aquela voz cantada. A sua excitação era tão visível, que, envergonhado, cruzou as pernas.
A determinada altura estabeleceu-se um silêncio, e ela aproveitou para se despedir:
- Excusez-moi, Pedro. C’est déjà trop tard.
- Ah! Oui, bien sur. Peut-être, la prochaine fois. Au revoir, Délphine.
E então ele atreveu-se a despedir-se dela como é hábito os franceses com alguma intimidade fazerem, beijando-a. Veio-lhe às narinas aquele aroma suave a alfazema que ela desprendia, e sentiu a macieza e calidez da pele. Mas sobretudo exultou, porque ela correspondeu aos seus beijos muito naturalmente.
Ao jantar, os pais notaram que ele estava muito alegre. Feliz, até. Sentiram-se felizes por ele, mas nem desconfiavam da causa de tal exaltação.
Nessa noite, dormiu como se o mundo todo lhe coubesse na mão.
Como os pequenos seios de Délphine
O amor é lindo!
ResponderEliminarVenho para a última parte...
Beijinhos.
Ui... que a terceira parte promete...
ResponderEliminarEnquanto te lia, surgiu-me uma questão: será assim que os franceses veem as portuguesas (les vraies femmes de ménage)?:)
ResponderEliminarAs tuas descrições colocam-me bem no meio da 'ação'.
ResponderEliminarUm texto bem conseguido.
A quem tenho de 'meter uma cunha' para adiantar o capítulo III?
Aguardando...
Eheheh, cheira que vamos ter caso... dos antigos! :)))
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