terça-feira, 24 de julho de 2012

La Belle Fille de Ménage - I/III

Os pais não faziam parte da multidão de imigrantes comuns, tinham-se integrado na alta burguesia parisiense, o pai era director de uma empresa de média dimensão, mas importante, a mãe era professora num colégio particular luxuoso, fazia voluntariado no Hôpital Pitié-Salpêtrière. De vez em quando, recebiam um grupo selecto de amigos para jantares com tudo o que de melhor se encontrava no Marché Bastille, e cozinhado pela rotunda madame Hilaire.
Viviam num apartamento mediano – na perspectiva da classe social que frequentavam – mas a que não faltava nenhum luxo, com duas suites, um pequeno escritório, uma cozinha eficiente e uma sala ampla com área de refeição e de estar, situado no Marais, virado para a Place des Vosges
Quanto a ele, tirado um curso de economia e gestão, tinha sido convidado pela directoria portuguesa de uma grande multinacional, mas optara por terminar o estágio que lhe tinham oferecido numa pequena empresa muito bem cotada em La Defense.

Todos os dias saía de casa impreterivelmente às 8h, caminhava até à maravilhosa Place Igor Stravinski, sentava-se na esplanada da Dame Tartine, e o criado que parecia conhecê-lo desde sempre, ao fim de 2 minutos trazia-lhe um crepe com molho de groselha e um café com leite. Tinha dez minutos para a pequena refeição e para admirar mais uma vez as extraordinárias figuras que se deslocavam sobre o lago – parecia ser um ritual que lhe augurava o dia, aquele de ver todas aquelas cores em movimento. Depois, descia até ao Hotel de Ville onde apanhava o Metro linha 1 das 8,30h. Mas nunca tinha horário de regresso.
Era atraente no seu metro e oitenta bem cuidado diariamente no ginásio mas sem exageros. Devia agradar às mulheres, porque não lhe faltavam nunca namoradas, embora ele não fosse um tipo volúvel, muito menos do género one night stand.

Talvez agradasse às raparigas o seu cabelo muito escuro, tal como os olhos, o seu queixo firme e o andar decidido. Ou talvez a sua personalidade um pouco reservada mas de humor acutilante, a sua elegância inata, o cuidado que tinha consigo próprio. Nunca saía de casa deixando algo da sua apresentação ao acaso. Nesse aspecto, sabia-se previsível, mas preferia assim.
Portanto, a sua vida decorria conforme o plano, parecia um relógio suíço. Tinha inteligência, dinheiro, uma vida social e sexual bastante activa e tudo isso lhe dava grande tranquilidade e paz de espírito.
Contudo, estava escrito que naquela 4ª feira em que a mãe pôs um anúncio no jornal a pedir uma femme de ménage para substituir a velha madame Zizou, tudo iria mudar. Responderam várias candidatas, todas atendidas pela mãe e sujeitas a interrogatório cerrado e rigoroso, e curiosamente, a senhora decidiu-se pela mais nova de todas. Talvez tivesse influenciado na decisão, o motivo principal que a candidata apresentara para desejar aquele emprego: era estudante na Sourbonne, e a bolsa de estudo e a pequena mesada que os pais lhe mandavam da Haute-Savoie eram curtas para pagar os estudos e a renda das pequenas águas-furtadas que tinha alugado com uma colega em Saint-Germain. A mãe sempre prezara muito quem se esforçava por alcançar uma cultura superior, quem se queria valorizar.
No dia seguinte, quando chegou a casa mais cedo do que o habitual, deparou com surpresa que se encontrava no pequeno hall com alguém que não conhecia. Encarou estupefacto uma rapariga linda, que parecia ter pouco mais de 18 anos e que o olhava curiosa e com as faces ligeiramente acerejadas. Detrás dela, surgiu a mãe:
- Bonjour, mon fils. Apresento-te a Delphine, a substituta de madame Zizou, e nova empregada de limpezas – e sorria, talvez gozando o efeito surpresa que a rapariga tinha causado no filho, que continuava sem reacção e com a surpresa estampada no rosto.
Quando recuperou a compostura, sorriu e apresentou-se:
- Ah, bon! J’suis Pedro. Enchanté. – e curvou ligeiramente a cabeça
Ela respondeu com um sorriso e um “merci, M'sieu” com uma voz suave, quase ciciada.
Diabo, a rapariga tinha uma voz sensual, perfeitamente de acordo com a figura. Era ligeiramente alta para mulher, tinha o cabelo claro meticulosamente entrançado e enrolado no cimo da cabeça que, depreendia ele, devia estar seguro por ganchos. Os olhos eram cor de avelã com grandes pestanas e encimados por sobrancelhas claras como o cabelo e que mal se notavam, nariz ligeiramente arrebitado e coberto de sardas e a boca vermelha e bem desenhada. A cara era perfeitamente oval, e o penteado preso, fazia-lhe sobressair o pescoço comprido e muito branco, tal como as pequenas orelhas quase transparentes e ligeiramente afastadas da cabeça, facto que lhe emprestava uma graça muito especial.
O corpo…bom o corpo era esplêndido, pernas altas, ancas perfeitas, cintura estreita, e os seios eram pequenos e espetados. Imaginou que lhe cabiam nas mãos. Pensou que não namorava uma rapariga cujos seios lhe coubessem nas mãos, desde os tempos do liceu. E sentiu a excitação que dele se apoderara, acentuar-se.
Entretanto, ela pediu licença e deixou o hall, ao mesmo tempo que ele se dirigiu ao quarto seguido pela mãe, que lhe perguntava:
- Então, agradou-te? É uma rapariga muito educada e estuda na Sorbonne. E parece muito competente.
- Sim, mãe. Embora me pareça demasiado bem vestida para femme de ménage.
- É só hoje, Pedro. Amanhã vou-lhe buscar a farda. Vai começar a vir às 2ªs, 4ªs, 6ªs e nos dias em que recebermos amigos. Depois despediu-se enquanto ele se despia e se metia debaixo do duche e manteve a água fria. Depois de um dia de trabalho e de uma visão daquelas, tinha mesmo que tomar um duche frio.
Imaginou enquanto espalhava o gel pela pele, que era possível que aquele não fosse o único duche frio que tomaria nos próximos tempos.
(continua)

8 comentários:

  1. Olha, eu nunca vi nenhuma femme de ménage dessas e já vi algumas ;)

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  2. Já imagino a continuação... :)

    As férias foram boas?

    Beijinho :)

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  3. Que texto delicioso de ler.Gostei!

    Virei outras vezes.

    :)

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  4. Quero a continuação!!!!
    Que saudades destes magníficos textos :)

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  5. Jasus! :)
    Prevê-se que não faltará ménage-a-deux ao Pedro-Bom-Cmó-Milho.
    Vic, cresce a todo o instante o interesse pela continuação e desfecho da história.

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  6. Hummm... temos blogonovela?!? :)))

    Gostei do início, vamos lá ver o seguimento! :)

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  7. O romantismo está ligado ao francês, a Paris, 'toujours'.
    Vou ler a 2ºparte, fiquei em suspense.
    Um beijo.

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Eu leio todos com atenção. Mas pode não ser logo, porque sou uma pessoa muito ocupada a preencher tempos livres!