segunda-feira, 30 de julho de 2012

O Marcelino e as Calças Sexuais

Sabe-se que se se perguntar a uma mulher quais as qualidades que privilegiam num homem, ela responderá: inteligência, o senso de humor, a cultura, a sensibilidade (desde que não sejam “demasiado sensíveis”, if you know what I mean), e mais uma ou outra qualidade do género.
No entanto, sabe-se que esta expressão de vontades não passa de uma questão de quererem parecer politicamente correctas. Na maior parte dos casos, a mulher que assim responde, antes de saber se um tipo é inteligente, culto ou se tem sentido de humor, olha-lhe para a carteira e para o carro que conduz. Ou então se o tipo é bonito e tem o corpo trabalhado por 5 horas diárias no ginásio, mesmo que pense que o Big-Bang é uma cena de filme pornográfico com vários intervenientes de ambos os sexos à molhada, ou que a Madame Curie é a dona de um bar de alterne em Celorico da Beira. O que demonstra mais uma vez que de boas intenções…
O meu amigo Marcelino é um caso à parte. Não é um tipo inteligente, mas é esperto, tanto que está já nos quarenta e nunca trabalhou, vivendo de expedientes, seja na venda de artigos de contrafacção, seja a impingir à vizinhança rifas de 50€ para um automóvel que sairá com a lotaria do Natal (mas sem referir o ano do Natal em questão). O mais perto que ele esteve de algo relacionado com cultura, foi quando plantou salsa e coentros na varanda, e quanto ao humor, o que mais o faz rir é um anão que mora na rua de baixo, e que ele saúda sempre com: “Bom dia! Então já sabes o que vais ser quando fores grande?”. E ri-se muito. Aliás, outra das coisas que o faz rir são as suas próprias anedotas, mesmo quando as conta pela 450ª vez. Bom, o marreco das cautelas a quem ele pergunta sempre: “Então, é hoje que dou uma voltinha de camelo?” e os filmes do Louis de Funés, também o divertem bastante. Ao mesmo tempo, isto dá também uma vaga ideia da sensibilidade dele
Portanto, o Marcelino não se encaixa nem nos perfis que as mulheres dizem preferir, nem naqueles que elas realmente escolhem em grande parte dos casos. Mesmo assim, não tem razão de queixa em relação à sorte que tem com elas. E a sua última conquista foi a vizinha do 161, que agora já sei que afinal se chama Ondina, nome que se lhe adequa muito bem tendo em conta as belas curvas do seu corpo (o Marcelino acha que o nome apropriado seria Curvina, mas a mim, por qualquer razão, não me soa bem). Pois o Marcelino desde que lhe contei aquela história que se passou comigo e que aqui já relatei, do dia em que ela vinha a descer a rua e eu a subir, e ela se espalhou com grande espectáculo mesmo à minha frente (e que por causa da mini mini mini saia que ela usava eu consegui ver que ela não trazia cuecas e mais, tinha feito depilação à brasileira) ficou de pé atrás.
- A Odete também se depilava mas ficava com aquilo que parecia a cabeça de um daqueles índios, os matarruanos.
- Moicanos…
- Ou isso. Agora assim como estás a dizer, só nos filmes do Cinebolso. As gajas só rapam tudo p’rós filmes, não me lixes.
- OK, então pergunta-lhe.
- Vou fazer melhor. Vou verificar com os meus próprios olhos.
E não descansou enquanto não a engatou, só para ver se eu não o estava a aldrabar. Bem, o engate nunca me pareceu tarefa muito difícil, o problema dele agora, é que ele é solteiro e quer continuar a ser, e a Ondina tem uma tia velha que vive com ela e mal sai de casa, e que é uma espécie de guarda-costas das virtudes da rapariga, embora esta já me pareça bem rodada e as virtudes me parecerem ser poucas. Só que agora, a velha quer porque quer que a sobrinha case e bem, e que a leve para uma casa com jardim. Ora o Marcelino, a 1ª vez que a foi buscar para sair à noite, levava um fato Armandi de alpaca espelhada tão espectacular que quando a luz se reflectia nele, o Marcelino até encadeava. E a velhota ficou muito bem impressionada, até porque ele teve a gentileza de lhe levar um ramo de flores gamado no Jardim da Estrela, e o Marcelino pareceu-lhe logo um Joe Berardo, mas em bom, até porque coisa que ele tem é bom aspecto.
O problema é que a velhota agora, cada vez que lá vai a casa, não fala noutra coisa senão no anel de casamento para a sobrinha, e a Ondina, influenciada pela velha, também não o deixa esticar-se muito.
- Bolas! Começo a ver que não consigo trincar aquilo sem assumir um compromisso mais sério! nem imaginas como a gaja me entusiasma (não foi bem esta a expressão que ele usou, mas não quero ser grosseiro)! Já viste bem o comprimento daquelas pernas? E o nalguedo? Nem imaginas como fico quando estou ao pé dela. Pshiu, agora cala-te e disfarça, que vêm aí as gémeas.
- Gémeas? Quais gémeas? – foi quando olhei para o mesmo sítio que o Marcelino e era a Ondina que se aproximava, e quando vi que ela trazia vestido um casaquinho muito fino de malha que se via bem que não tinha nada por baixo e que os botões de cima pareciam prestes a serem projectados por aquela força da natureza, percebi a que se referia ele. Ela parou ao pé de nós e disse com uma voz daquelas que faz revigorar um moribundo:
- Bom dia, amorzinho. Para si também, acrescentou olhando para mim com olhos de carneiro mal morto e sorriso a condizer. E acrescentou: Olha, hoje não podes lá ir almoçar a casa. Vou agora para a depilação e não sei a que horas volto. Beijo, querido, e não te esqueças de ires vendo do anel para a tua fofa.
Com aquela da ida à depilação, é que ela o deixou quase a amarinhar pelas paredes
- Eh pá, já não me aguento. Estou aqui que nem posso. Será que ela vai depilar tudo ou só as pernas? Esta gaja dá-me cabo dos nervos. Estou a ver que só lhe vou conseguir saltar para cima e ver se não me estavas a enganar se começar a usar as calças sexuais que o Adolfo me trouxe de Guimarães.
- Calças Sexuais?
- Não sabes? Ele foi a Guimarães à capital da cultura aqui há dias, viu aquilo na montra de um alfaiate e achou tão porreiro que até tirou uma fotografia e me mandou para o telemóvel e perguntou-me se eu queria que ele me comprasse um par. Claro que quis, dei-lhe a minha medida de calças e agora tenho-as lá em casa para as estrear como último recurso. Com esta, ela não me vai resistir. Queres ver a foto?
- Claro! Já agora…
E estendeu-me o telemóvel:
Quando vi, nem queria acreditar, e olhem que eu já vi muita coisa na vida.
Está visto que cada vez mais o sexo é uma importante vertente da cultura.

9 comentários:

  1. Mal comecei a ler o título, vi logo que vinha aí das boas, foi só preciso saber que era com o Marcelino :D

    É cada história melhor que a anterior, Vic eheheh
    "a calça mais mediática do século" ahahahahah

    (hey, gostava muito dos filmes do Louis de Funés!)

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  2. Bem, esse Marcelinho é personagem e a sua deusa também a sabe toda! Gostei muito! :D

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  3. Ahahahahah! Muito bom, Vic. Já andava com saudades do Marcelino ;)
    Já agora, fica sabendo que eu também me divertia, e muito, com os filmes de Louis de Funès e tenho uma grande sensibilidade, ok? Uma coisa não invalida a coisa. Não te sabia preconceituoso, Vic... ;p

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  4. Essa discrição daquilo que gostamos nos homens, está muito generalizada e quem procura isso (a isso, refiro-me tanto às virtudes intelectuais, como as virtudes carnais) nunca, ou quase nunca encontra. :) Não é coisa de se procurar, o amor :)
    Gostei do texto, muito engraçado. E esse Marcelino deve ser cá uma peça.. :)

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  5. Ele há com cada uma!!!
    Será que também há dessas para a senhora da foto? É que com o tamanho de pernas que tem....vai lá vai.

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  6. Pobre Marcelino, o que o homem sofre só para tirar uma dúvida eheheh

    Pró alfaiate de Guimarães sexo faz parte da cultura...será que é a este tipo de cultura que as mulheres se referem quando dizem o que mais gostam num homem ??? :p

    Beijinho :)

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  7. Com vizinhos desses o tédio écoisa impensável!
    As calças não consegui perceber nas fotografias.Mas, reparei numa 'lápide' de grantito cinza no reflexo do espelho. A alfaiataria tem vista para o cemitério? Ou sou eu que ando a precisar de óculos?
    Uma delícia a narrativa.

    beijinho.
    P.S. As mulheres dão muita importância ao sentidode humor e características não físicas num homem, SIM! E não são as económicas e materiais.

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  8. Disse e repito: esse Marcelino parece-me um grande cromo! E ainda há quem lhe chame pobre Marcelino... silly season é no que dá! :)))

    As mulheres que tu conheces também me parecem todas bastante interesseiras, a avaliar pelo que dizes... :D

    Ou então sou eu que sou uma incurável romântica! :)

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  9. Man, tu escreves de uma maneira que eu pareço uma agarrada à caça da próxima linha.
    Estou-te a seguir, estou-te a seguir.
    Btw, o Marcelino sempre chegou a conferir o "negoce"?

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Eu leio todos com atenção. Mas pode não ser logo, porque sou uma pessoa muito ocupada a preencher tempos livres!