quarta-feira, 18 de julho de 2012

Nos 94 Anos de Madiba

Perfaz hoje 94 anos, uma das mais importante figuras do século XX.
Figura incontornável quando se fala da luta anti-racista, Mandela, símbolo maior de África e das independências negras, mais especificamente da luta anti-apartheid, foi já retratado por muitos biógrafos, pelo que não seria eu a acrescentar algo de importante.
No entanto, e porque gostei especialmente do texto que segue, escrito por Luís Sepulveda no seu livro “O Poder dos Sonhos”, aqui o deixo para vocês.
Nasci no Chile, e no Chile não há negros. Mas os amigos tratam-se carinhosamente por “negros”, a gente humilde, a minha gente, na sua amorosa linguagem, trata-se por “negros”. “Que quer comer, negrito?”,”O mesmo que você, negrita”. As classes poderosas, quer dizer, os pinochetistas disfarçados de centro-direita, usam a negritude como um insulto: um trabalhador que pede melhores salários, é “um negro de merda”. Não obstante esta confusão a propósito do facto de se ser negro, em geral, os Chilenos gostam dos negros e chamam-lhes negritos. Se os peruanos, bolivianos e equatorianos que sobrevivem no Chile fazendo os piores trabalhos, que os chilenos branquitos se negam a realizar, fossem negros, não sentiriam tanto menosprezo e racismo.
Não nos custa gostar dos negros e temos razões para isso: o homem mais brilhante do século XX é um negro - Nelson Mandela. Um dos personagens cinematográficos mais nobres foi protagonizado por um negro - Sidney Poitier. Um dos melhores romances que li foi “A cabana do pai Tomás”, o maior desportista da história chama-se Mohamed Ali, a voz mais perfeita para cantar o amor era a de Bola de Neve, os melhores músicos do século passado chamaram-se Charlie Parker, Louis Armstrong e Miles Davis.
Nada nos custa gostar de negros, mas, infelizmente, há negros que não deixam que se goste deles. Como gostar de Michael Jackson, um negro desbotado e de péssimos cosumes? Quem poderá gostar de Condolezza Rice, essa negra escondida atrás de trejeitos de WASP, que fez carreira política vendendo a sua raça, renegando o legado de Martin Luther King, Myriam Makeba e Malcom X? E quem poderá sentir carinho por Colin Powell, esse negro que chegou a empalidecer no Conselho de Segurança da ONU, ao mostrar um frasquinho de sais de banho, assegurando que era “uma arma iraquiana de destruição maciça”, esse negros de modos bruscos cujo erotismo enlouqueceu Ana Palacio, e que, podendo escapar para as pradarias da decência como um digno chimarrão, prefere continuar no seu triste papel de bimbo ao serviço da máfia de Bush?
Talvez seja justo ressaltar que há brancos, negros e “gente de cor”. Mandela é negro, resplandescentemente negro, luminosamente negro; pelo contrário, Condolezza Rice, Cheney, Rumsfeld, Negroponte, Aznar, Berlusconi, Blair, Powell e Le Pen são “gente de cor”. De cor duvidosa.
Luis Sepulveda, in O Poder dos Sonhos, 2004

4 comentários:

  1. Grande Mandela! Sem dúvida um dos homens mais notáveis do século XX, que sempre lutou pela liberdade! :)

    E belíssima a tua homenagem, com as palavras de Sepúlveda! Que mais uma vez diz preto no branco aquilo que deve ser dito, sem medo das palavras... :D

    PARABÉNS, MANDELA!

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  2. Por isso é que não vou pela cor da pele. As atitudes, os comportamentos são-me mais importantes, determinantes,por vezes.
    Duma coisa tenho quase a certeza, se Mandela tivesse nascido 'branco' não seria quem é hoje.
    Beijinho.

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  3. Gostei muito de ler. Obrigada por partilhares, Vic.

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Eu leio todos com atenção. Mas pode não ser logo, porque sou uma pessoa muito ocupada a preencher tempos livres!