O Eduardo é um snob. Bom conversador, arrogante quanto baste, mas sempre galante com as mulheres, é delas muito querido, embora no fundo já um traste. Diz-se das mulheres que as boas vão para o céu e as más para todo o lado, e de certo modo, com os homens passa-se a mesma coisa, os mais atrevidos e menos escrupulosos é que parecem ser os alvos primordiais das senhoras.
Fisicamente bem constituído, ostenta os seus olhos azuis e o seu bigode aristocrático, muito bem tratado e de hastes bem retorcidas para cima e veste-se sempre de forma irrepreensível, sapatos impecavelmente engraxados, fato perfeitamente engomado, lenço de bolso escolhido meticulosamente. De há uns tempos para cá, acrescentou à indumentária habitual, uma bengala de castão de prata que o avô lhe deixou, que ele
exibe orgulhosamente e lhe empresta um ar de personagem saído dos romances de Eça. Um verdadeiro dandy.
E o Eduardo tem outras virtudes, é amigo, divertido, é assertivamente oportuno e tem, sobretudo, um sentido prático muito refinado.
Há uns dias combinámos um café na Tentadora e à hora marcada lá estava ele, pontual como um inglês como ele já me referiu mais que uma vez e repetiu então: "Um gentleman é sempre um gentleman, e é pontual, mesmo nos compromissos menos importantes, como é o caso". Naturalmente, agradeci a magnanimidade.
Sentámos-nos na esplanada que o dia estava quente, e encetámos conversa,que, quando se tratava do Eduardo, ia inevitavelmente parar a mulheres, o seu tema preferido, provavelmente o seu último engate. Estava-me ele a descrever a Elsa - pois, o seu último engate - até ao mais ínfimo pormenor, desde os seus cabelos sedosos e longos que lhe causavam sensações para lá do terreno quando lhe roçagavam o peito até à sua perícia
na cama, especialmente em determinadas posições que eu me vou escusar de descrever aqui quando um pequeno cão se aproximou.
Ora eu estava de pernas cruzadas, e o canídeo devia ter falta de visão porque confundiu a minha perna que não assentava no chão com uma fêmea da sua raça e agarrou-se a ela, começando a dar freneticamente às nalgas, criando-me uma situação altamente embaraçosa. Tentei sacudi-lo mas o sacana do cão parecia uma lapa.
Foi então que. Eduardo interveio.
Ainda hoje não me recompus da cena: o Eduardo ergueu rapidamente a bengala que desceu com a velocidade de um raio sobre a traseira do cão, apanhando-lhe as nalgas o que entre elas exibia dependurado. Aquilo, até a mim me doeu. O canito largou um uivo e ao mesmo tempo a minha perna, deitando-se a correr para ao pé da dona, que para nossa sorte se encontrava distraída a comprar umas revistas no quiosque ali a uns metros, latindo dolorosamente,
Fiquei estarrecido, e quase mudo. Mas ainda consegui dizer:
"Eh pá, para que é que fizeste aquilo ao animal? Deve ter doído como o caraças"
E ele, imperturbável:
"Já me estava a chatear, pá, a interromper-nos a conversa. Assim, largou-te as calças, livrei-te de uma situação ridícula, e fiz um favor à dona que já não precisa de gastar dinheiro na esterilização. Com a bengalada que lhe assentei nos tomates, de certeza que nunca mais é pai".
Confesso que a sensibilidade do Eduardo até me comoveu.
O Eduardo era um snob sem coração...pobre cãozinho :)
ResponderEliminarGosto destas histórias :)
:)
É a isso que acho piada: vocês têm pena do cão mas de mim que levei com ele, nem pó.
Eliminar:)
rrsss Acho que ainda vai para o Governo, o Eduardo.
ResponderEliminarNunca se sabe, São :)
EliminarA atitude dele encaixa perfeitamente na descrição que fizeste.
ResponderEliminarSede de mais histórias :)
ps- bom nome, Elsa, e também Eduardo :)
A seu tempo, TR :)
EliminarOs nomes são sempre bons. As pessoas é que nem sempre :)
Esse traste, oops, Eduardo, parece assim um personagem saído de um figurino christiano, de meados do século passado, com a malvadez inerente ao criminoso que perpassa despercebido ao longo de todas as suas páginas, por se esconder atrás de uma máscara de aparente amabilidade e simpatia... :)
ResponderEliminarEspero que a história não seja verídica; mas se for, aconselho-te a arranjar também uma bengala! Para utilizar em alguém, que maltrata assim animais indefesos e desprevenidos!
Ele não é malvado, Teté. É só um bocado insensível.
EliminarAgora essa dos animais indefesos e desprevenidos...quem estava desprevenida era a minha perna, dessa vocês não falam. E ele estava desprevenido porque estava a dar às nalgas onde não deva!
"Diz-se das mulheres que as boas vão para o céu e as más para todo o lado..." terá sido por isso que eu vim parar aqui?*
ResponderEliminarSentes-te no céu, tétisq :)
EliminarCoitado do pobre cão!detesto que façam mal aos bichos,mas não pude de deixar de rir com o malévolo Eduardo e com toda a situação, ele é perna, cão, bengala :)
ResponderEliminareheheh, também fiquei cheio de pena do bicho, Rainha :)
EliminarE logo o Eduardo que gosta tanto de mulheres e de dar às nalgas, olha se lhe faziam isso a ele.
ResponderEliminarLol! É verdade, Vera. Era giro. E lembrathe-me um filme italiano que tinha uma cena do género :)
Eliminareu também não gosto de tomar café com budistas. a paranóia obsessiva de respeitar os animais a todo o custo já enjoa.
ResponderEliminarQualquer paranóia é nociva, Moyle. :)
EliminarEstás a entrar para o meu clube. O clube dos cães tarados :))) Para a próxima, empresto-te pequena Cutxi. De certeza que a tua perna sai ilesa :DDD
ResponderEliminarLol, já quando li a tua história também achei muita piada à coincidência, PE :):):)
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