Acordei com a sensação de que um terramoto me abalava a casa: era a filha da vizinha do terceiro - já lhe conheço o trote - a descer as escadas. Já imaginaram a Popota a descer umas escadas à pressa? Pois... é mais ou menos assim. Olhei o relógio.
8h15. Raios, ainda podia ter dormido mais meia hora, mas agora já não
dava para adormecer. Apeteceu-me fazer a contabilização das horas de sono que aquela gaja já me devia, que entre descidas de escada daquele estilo e os gritos e ranger de cama de quando passa uma ou duas horas a dar às nalgas com o namorado quando a mãe passa fins de semana fora - e são muitos - deve apresentar um saldo a condizer com o corpanzil dela, e perguntar-lhe como me quer pagar aquilo, se em dinheiro ou em géneros.
Levantei-me, fui à casa de banho, a mijadela matinal e a seguir uma olhadela ao espelho. Olheiras. Nada a fazer. Lavo os dentes, não é dia de fazer a barba e ainda bem que com o sono com que estou, ainda me degolava, ou cortava um lóbulo de orelha, tomo banho e penteio-me.
Já mais desperto, como os cereais e enfio o comprimido para a tensão (leram bem, tensão). Depois, volto ao quarto, e visto-me. A cadela já está sentada à porta à minha espera. São:
9 h. - A minha bicha, mal sai à rua, faz o seu chichi e arreia o calhau da manhã, que eu apanho civicamente. Vou até ao café, que já está cheio de gajos que não fazem nada, e quando estou a beber o café, aparece o com uma das t-shirts dele. Esta tem escrito: "Tell your big boobs to stop starring at my eyes". Já sei que vou arder com um café ou uma mini.
Vem direito a mim, dá-me uma palmada nas costas que me entorna metade do café e diz em voz alta:
"Então já sabes a última?"
Claro que não sabia, e disse-lho. E acrescentei:
"Mas fala baixo, que me dói a cabeça porque acordei sobressaltado".
"Ok. Sabias que o Celestino foi apanhado pela mulher, na cama com o Tripé?"
Ora aqui, impõe-se uma explicação. O Celestino tem uma espécie de frutaria onde vende também legumes com a mulher, a Marilú. Tripé é apelido do Ermezindo, um trolha caboverdiano, que mora numa cave na rua de baixo. Acho desnecessárias quaisquer explicações sobre a origem da alcunha do Ermezindo.
Voltando à narrativa: fiquei estupefacto. Primeiro, porque o Celestino tem um grande bigode, anda sempre com a camisa aberta até ao umbigo a mostrar o pelame do peito que parece um carpélio, alanca com sacas de batatas de 50 kilos, e dizia-se que a mulher o trazia de trela curta por causa das sopeiras. Segundo...bem, segundo nada, há muito que se diz que o Tripé é de boa boca. Pelos vistos, quem o afirmava, falava em sentido figurado.
"Pois, nem imaginas. Foi ontem à tarde. Um escândalo. O tipo disse à Marilú que ia dormir uma sestinha, ela fica a tomar conta do lugar e ele foi-se aviar com a fruta do cabo verdiano. Tu sabias que o tipo agasalhava o palhaço?"
"Eu não! Nem desconfiava! Porque é que me perguntas isso?"
"Bem, falavas tanto com ele" respondeu-me ele de maneira dúbia.
"Tem mas è juízo. Tás aqui, tás a pagar tu a cerveja" o tipo viu-me com os azeites e já não retorquiu.
"Agora deixa-me ir, que tenho ali o animal à espera para ir passear".
"Então não queres ouvir a história toda?"
"Contas logo, agora estou com pressa"
"Então logo aparece, para te contar principalmente aquela parte em que o Tripé saiu a correr em pelota com a Marilu atrás dele com o cutelo da carne, e a D. Carlota a gritar que há muito tempo que não via uma coisa daquelas, e que daquele tamanho nem nunca tinha visto, e que parecia o badalo de um dos sinos de Mafra" (notem que a D. Carlota já era nascida quando deflagrou a 1ª grande guerra, portanto deve ter visto muita coisa). Devo ter ficado uns 5 minutos de queixo caído, mas lá me recompus
"Tá bem, Tá bem, depois contas" já sabia que aquilo significava mais uma mini que ia ter que pagar. Olhei para o relógio:
9h30 - Fui até ao jornaleiro, comprei o jornal e fui até ao jardim com a cadela. Se fosse ler para o café, ao fim de 2 minutos, tinha 2 ou 3 gajos a ler-me o jornal por cima do ombro, e o que era pior, a comentar as notícias entre eles, não me deixando concentrar. Sentei-me no primeiro banco à sombra que encontrei. Abri o jornal, mas não me conseguia concentrar na leitura. Aquela história da Marilu e do Tripé não me saía da cabeça.
10h00 - Vou a casa deixar a canina, e vou ao mercado comprar limões - no lugar de fruta do Celestino, enquanto não souber bem a história, não me apanham - agacho-me para apanhar dois limões e quando me levanto, quase enfio o nariz entre as duas gémeas carecas da minha vizinha do 161, que estava com duas meloas na mão e me sorri melosamente e nem faz questão de se afastar. A mulher, do pescoço para baixo e da cintura para cima, é a Pamela Anderson sem tirar nem pôr. Sinto o sangue a subir-me todo ao rosto e a pulsação já devia ir nos 120. Sorri-lhe um bocado envergonhado e notei
que o patrão do lugar da fruta, mandara um empregado "aviar a senhora" e se sentara de pernas cruzadas e apertadinhas, e muito vermelho. Imagino porquê. Paguei e pirei-me
11h00 - Chego a casa com os limões. Tempero as bifanas.
11h30 -Saio novamente de casa com o jornal debaixo do braço e dou uma volta ao quarteirão, aparentemente sem qualquer objectivo.
11h45 - Encontro o Tibúrcio. Vem com uma prancha de body-board debaixo do braço.
"Então, vais à praia? O tempo não está famoso, e não te sabia adepto do body-board"
"Tás maluco. A água da praia é fria pra caraças. Engatei a Adozinda,e ela disse-me para ir ter com ela lá a casa, para a gente dar uma pranchada".
Estive para lhe dizer que ele não devia levar o que os outros diziam tão à letra, mas acabei por achar que não valia a pena.
(continua)
eheheheheheh que rua tão movimentada...
ResponderEliminarSe continua vou esperar a continuação eheheh
:)
É Maria, por aqui há sempre novidades :)
Eliminarde toda a história o que mais me me deixou a pensar foi em que espécie géneros queres tu receber da popota? :)
ResponderEliminarOpá, Miss Kinky, nem pensei nisso. Sei lá, cebolas, batatas...:)
Eliminaro teu bairro é uma festa!!
ResponderEliminarParece um made in usa, não é, Xuxi;)
Eliminaro teu bairro é de gente mt ordinareca é cada palavrão, essa da pranchada e aviar a senhora, são termos muito fatela,de gente de chinela no pé tás a ver ou não? pira.te desse bairro masé muda-te aqui pranó a popota tem mamasqueforaminjetadas pelo prof mestre da cirurgiananseidasquantas casado com a Isabel Angelino, topas? os géneros que ela te possa dar não te convêm, não vão ser implantes mamários falsificados.
ResponderEliminartás a ver ou não?
Tou a ver tou. Mas eu gosto deles, porque sou como eles, tás a ver? Mudar aqui? Nunca.
EliminarPortugal no seu melhor, parece-me :)
ResponderEliminarTambém defende dos dias Moyle :)
Eliminartutás a pensar pagar a ela? a Marilu que te conte, nan pagues nada.
ResponderEliminarahahhahaha! Tens de contactar um realizador de novelas para ir até ao teu bairro, Portugal no seu melhor :)
ResponderEliminarEu bem queria cobrar uns direitos, Rainha:) dava jeito. Vamos ver se aparece investidor :)
EliminarEssa da pranchada faz todo o sentido... podem dá-la em cima de prancha. ahahah
ResponderEliminareheh, S*, é capaz de nào dar muito jeito :)
EliminarVá lá! Venha a continuação que rir faz bem.:))
ResponderEliminarbeijinhos
Lá iremos, Nina ;)
EliminarQue bairro tão animado...nem imagino o que terá sido depois do almoço...beijinhos Vaporub*
ResponderEliminarSim, nem imaginas. Acredito :)
EliminarÓ Vic, então tu achas que com uma imagem dessas alguém consegue ler a forma como a Popota desce as escadas, o modo como temperas as bifanas ou as pranchadas equivocadas do Tibúrcio?!? Não há condições!
ResponderEliminarQual imagem, Rafeiro? :)
EliminarE isto foi só da parte da manhã, e ainda não conheces a fundo a cena entre o Celestino e o Tripé? E essa D. Carlota tão vivida nunca tinha vista nada assim? Tás a arranjar aqui um caldo que qualquer dia aparece uma fila de gente aí no teu bairro, uns à procura da porta 161, outras do tal trolha caboverdiano... :)))
ResponderEliminarMas continua, que estou com curiosidade de ler o resto! :D
Ah! mas eu não digo qual é a rua, Teté :)
EliminarHistórias fantásticas, como sempre. É uma alegria, ninguém se pode queixar que é um bairro monótono :)) e a Marilú, é a mesma do outro post? A quantidade de cenas cómicas em tão pouco tempo é fenomenal. Aguardamos mais desenvolvimentos. O Tibúrcio sempre deu a pranchada ou a Adozinda deu-lhe com a prancha na cabeça? E o triângulo amoroso inesperado, desfez-se ou resolveram acolher o Tripé?
ResponderEliminarEna, tanta pergunta Elsa. Eu depois conto o resto, mas essa menage à trois não ia funcionar :)
EliminarViver num bairro é do mais inusitano que há. Melhor que todas as novelas juntas.
ResponderEliminarA ser verdade,a tua vida é, no minímo, interessante e riquissíma!
Estou ansiosa pelos episódios que se seguem.
Porque não escreves um livro?
Ou já escreveste? Quase podiam ser flagrantes da vida real.
Um beijo.
Nunca escrevi, Pérola :). Acho que tinha medo de me expor assim :)
EliminarIsso é que é animação.
ResponderEliminarSempre muita, Vera :)
EliminarAcho estas descrições simplesmente deliciosas. Grande parte do sal desta vida está nos pormenores. Claro que viver num bairro animado, ajuda, mas é preciso saber retirar o sumo. Aguardo curiosa pela continuação.
ResponderEliminarPois, a ver se arranjo tempo, Anna :)
Eliminarainda estive a pensar: se tinhas as meloas à mão, era só juntar presunto e tinhas uma magnífica entrada :)
ResponderEliminarEu nem quero falar em entradas, quando se trata da tipa do 161, M :)
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