Se Deus Existe, Pode Estar Metido Numa Grande Alhada

June.08 - John Scott-Finch the III, um cidadão de Brainlesstown, uma pequena povoação nas imediações de DesMoines, processou o estado de Iowa na figura do director do Bigshit Central Hospital por abuso de confiança e roubo e desperdício de órgãos humanos. A indemnização exigida, ascende aos 100 milhões de dólares. 

O processo nasce porque o pai do queixoso, John Scott-Finch the II, entrou naquela entidade hospitalar com fortes dores abdominais no lado direito, tendo-lhe sido diagnosticada uma apendicite aguda, pelo que foi prontamente levado para a sala de operações, tendo-lhe sido feita a ablação do apêndice. 

O queixoso apresentou-se no tribunal munido de uma proveta média que continha clorofórmio onde flutuava o pedaço de intestino retirado ao pai - que assistia à audiência aparentemente em boa forma física e sorridente - e que, segundo Joe, lhe foi devolvido pela Gerência do Hospital, depois de instado repetidas vezes a fazê-lo. 

O processo decorre à luz de uma lei local, segundo a qual, só os cidadãos ou seus descendentes, poderão dispor dos seus próprios órgãos. Segundo o advogado dos Scott-Finch, o Bigshit cometeu dois atentados ao corpo do paciente: privou-o de parte de órgão, o que é ilegal visto não haver uma autorização prévia do interessado para a amputação, e teria também a intenção de o desperdiçar, considerando-o lixo hospitalar, incinerando-o posteriormente. 

O advogado do Bigshit Central alegou que a apendicite se trata de uma infecção, e que a única solução seria a ablação da parte infectada de imediato, de contrário poderia ocorrer uma septicemia generalizada e morte do paciente. 

Nessa altura, Scott-Finch the III interveio, e declarou em tribunal estar a ponderar processar a classe médica em geral por incompetência e desleixo, por já terem arranjado mil e uma soluções para infecções dentárias e outras, e nunca se terem preocupado com a infecção do intestino, evitando assim, uma desnecessária amputação. 

O julgamento parece correr de feição ao queixoso e prevê-se até que o júri possa agravar o montante da indemnização a pagar aos Scott-Finch. 

Pois bem, isto levanta uma questão universal. Já aqui me declarei agnóstico. Portanto, se me mantenho nesta dúvida, é porque creio existirem algumas probabilidade de que Deus exista. Se assim for, e a serem verdadeiras as histórias que dele se contam, a fazer jurisprudência uma decisão em favor dos Scott-Finch, Deus poderá estar metido numa grande alhada. 

É que se Adão foi o primeiro homem, todos nós somos seus descendentes. O que nos concede todas as prerrogativas inerentes a tal situação. Ora bem, também segundo as tais histórias, uma das primeiras decisões fundamentais que Deus tomou enquanto criador, foi amputar Adão de uma costela com o fito de a partir dela, criar a mulher. Sendo assim, e à luz da lei acima, todos nós incontestáveis descendentes de Adão, poderemos processar Deus, por este ter procedido a uma amputação à revelia do interessado. Terá a seu favor, o facto de ter utilizado o apêndice mutilado para criar algo, na maior parte dos casos, agradável, direi mesmo, imprescindível, à vida do homem, e também uma fonte de prazer e desfrute. Mas tal não o isenta de culpas. Isto é, terá atenuantes, mas nunca uma absolvição. 

Assim, se todos e cada um de nós processar Deus pelo atentado à integridade cometido sobre o nosso mais antigo ascendente, e uma vez que ele já não o poderá fazer por razões óbvias, poderemos estar perante um caso de dimensões gigantescas, e que poderá causar um rombo épico nos cofres do paraíso. Ou no Banco do Vaticano, como seu legítimo representante na Terra. 

Resta saber, caso os processos se efectivarem, se Deus se apresentará a alguma das audiências e onde, uma vez que, e lá está, são as histórias que se contam, ele está em toda a parte. 

Contudo, e ao que se tem assistido nos últimos tempos, parece é não estar em lado nenhum.