terça-feira, 19 de junho de 2012

A Ginástica da vizinha da frente e o meu imerecido castigo


O 3º andar do prédio frente ao meu, agora ocupado ocasionalmente por uma senhora forte e totalmente desinteressante, foi ocupada anteriormente por um casal o mais diverso possível: ela, alta, bonita, de olhos enormes e lábios e curvas convidativas. Uma brasa, daquelas mulheres que têm duas coisas boas: as pernas e o resto.
O único senão, era a gaguez algo acentuada e o seu reduzido vocabulário, que dava para manter uma conversa somente ao nível do trivial, estado do tempo e do preço dos artigos de higiene. Digo isto porque ela cheirava sempre muito bem e porque uma vez me perguntou se não achava o preço dos tampões muito mais caros na farmácia do que no supermercado, isto a meio de uma conversa sobre sabonetes. 
O marido fora-a desencantar à sua aldeia natal, lá bem nos interiores de Viseu, lugar de onde nunca tinha saído, sequer para frequentar mais que o ensino básico. Isto claro que foi ela que me contou uma das vezes que nos encontrámos ocasionalmente no café 33, e sem que eu lhe perguntasse nada. Era uma simpatia, uma senhora muito dada, como é costume dizer-se. 
O consorte (e neste aspecto, nunca uma palavra foi tão adequada, embora rapidamente se tornasse precisamente o contrário) parecia um taco de pia, trabalhava de noite como segurança e era um homem simpático e solícito, baixo e entroncado, e precocemente careca. Em contrapartida, a pilosidade que lhe faltava na cabeça, sobrava-lhe e de que maneira, no resto do corpo. Via-o muita vez da minha janela, a passear pela casa em tronco nú e parecia que tinha uma alcatifa de carpélio, pêlo alto, colada nas costas. Estava sempre a imaginá-lo a descer do 3º andar agarrado a uma liana. 
Mas adiante. Fui verificando, para minha satisfação, que a senhora ia evoluindo, tanto a nível de apresentação, e mesmo a nível de conversação. Notava-se que havia ali vontade de melhorar. E especialmente porque, a dada altura, e sempre por volta das 10h da noite, ela se começou a despir em frente à janela que dá para a minha casa, ficando em trajes reduzidos - cuecas e soutien (mesmo muito reduzidos) - e iniciando uma sessão de uma boa hora de exercícios de ginástica, que eu supunha que lhe antecedia a ida para a cama. Só estranhei a insistência dela na repetição exaustiva do exercício das flexões de pernas, que era o que me parecia que ela fazia sempre a partir de certa altura, uma vez que da minha janela só dava para a ver da cintura para cima. E a flectir: para cima e para baixo, para cima e para baixo. E cada vez com mais genica. A mulher, a partir de certa altura do exercício, parecia que tomava o freio nos dentes. Muitas vezes apostei comigo próprio quando é que uma das meloas lhe saltava para fora do minúsculo soutien, mas nunca tive a sorte de ganhar a aposta.
De repente, desaparecia, supunha eu que com aquele esforço despendido, caísse prostrada no chão a descansar, suando abundantemente. Nessa altura eu fechava a janela, porque sabia que ela não se iria levantar tão depressa. Até cheguei a pensar se não seria daquelas pessoas a quem os médicos recomendam que durmam sobre superfícies duras por causa da coluna, embora me parecesse extremamente saudável.. 
Ora isto, para mim, teve um efeito terapêutico extraordinário, uma vez que a partir do dia em que ela se iniciou nesse ritual, eu deixei de ver televisão, o que me evitou assim, a inerente alienação, despertando-me para objectivos muito mais elevados, como seja assistir a uma sessão de ginástica executada com todo o rigor das grandes competições. 
Portanto, parece que aquele 3º andar só existia para me suavizar a existência. Também é verdade que me atazanava um bocado, e me chegou a causar algumas insónias e mesmo sonhos…como direi…húmidos. 
 O pior é que aquilo não durou para sempre como eu já sonhava. Terminou abruptamente quando a senhora, numa altura em que já se apresentava bem polida e já mantinha conversas bastante interessantes sobre moda e assim, fugiu com o professor de ginástica. Mas isso é outra história. 
Pior é a moral que extraí. De que não há bem que sempre dure. ´ Por vezes a nossa existência toma mesmo aspectos punitivos sem que saibamos porque somos castigados.

20 comentários:

  1. A isso se chama a tal boa vizinhança, já eu tenho um casal em cima que todos os dias distrói a casa, um homem ao lado que tem mau gosto músical e um casal em baixo que tem uma vida sexual demasiado agitada para os meus ouvidos! Haja alguém com sorte!

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  2. ehehheheh
    sempre poupavas na electricidade.... agora nao sei se a senhora forte conseguirá superar os exercicios "fisicos" da outra vizinha da aldeia :)

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  3. Bons tempos esses :p

    Agora resta-te recordar e voltar a ver tv ehehe

    Beijinho :)

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    1. Pois é, Maria. Era tão bom para lavar os olhos :)

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  4. Não creio que tenha traços de punição para ti. Acontece quea vida está em constante mudança e a senhora descobriu novo amor, na ginástica.
    Porque não lhe imitas os exercicios? Só te fará bem à saúde.
    Agora quem ocupa o tal apartamento? Mera curiosidade, nada mais.
    Beijo.

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    1. Isso faço eu, Pérola :)
      Está no principio do post, uma gordalhufa :)

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  5. Até que entendo. Ela evolui, melhorou, mudou de gostos... e preferiu outro homem. :D

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    1. Pois S*, mas privou-me do meu passatempo nocturno :)

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    1. Direi mais Rainha: maldito professor de ginástica!

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  7. Janelas Indiscretas são sempre do melhor. :)

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    1. É verdade, Troll. Tanto que o Hitchcock lhes dedicou um filme :)

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  8. Ahahah olha que bela distracção. Eu não tenho disso, vizinhos só de um lado e de outro e uma delas gosta de estar à janela a coscuvilhar para ver se mete conversa. Quando não arranja ninguém, fala sozinha :/

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    1. Sim, e as vacas também não devem ser muito de ginásticas, Elsa :)

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  9. Pelos vistos, o professor de ginástica é que teve sorte e a tua televisão também ;p

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  10. Castigo merecido! Então espreitam-se as vizinhas em trajes menores?!? :)))

    Mas como diz a Maria, agora podes voltar a alienar-te à vontade! :D

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Eu leio todos com atenção. Mas pode não ser logo, porque sou uma pessoa muito ocupada a preencher tempos livres!