sexta-feira, 15 de junho de 2012

O Prazer (1)









Como de costume, sentara-se na última mesa mais longe do balcão, no restaurante toda a gente sabia que era a "sua" mesa, hábito de há mais de um ano, quando estabelecera que daí por diante seria o "seu" restaurante. Era um homem de hábitos, o que por vezes o irritava "Sou demasiado previsível em demasiadas coisas". 
Até no fato Tom Ford de 4.000€ cinza que vestia nesse dia. Nunca fugia muito das cores neutras apesar de muitas vezes se sentir tentado a transgredir. Mas depois faltava-lhe golpe de asa, pensava que algo mais "bold" lhe retiraria credibilidade. Ela surgiu e entregou-lhe a o menu e a carta de vinhos. 
Ele, sem levantar os olhos do telemóvel, fez um movimento de mão como que recusar, e murmurou "É o costume". "E o costume é?....Sou nova". Só então a olhou e faltaram-lhe as palavras. Era esplêndida, pensou, não muito alta, esguia, cabelo muito escuro, boca brilhante do baton vermelho e dos dentes alvos que mordiam ligeiramente o lábio inferior. Os olhos eram quase redondos de tão grandes, profundos como um poço e que olhavam para ele quase divertidos com o embaraço que lhe provocara. 
"Desculpe, não reparei" quando saiu do torpor. Ela acenou com a cabeça e esperou. "Traga-me um peixe grelhado sem acompanhamento. Diga ao chef que é para X, ele sabe como é. E um vinho. O seu colega dos vinhos também sabe, se lhe disser que é para mim
Ela assentiu e retirou-se. Ele seguiu-a com o olhar. Era quase impossível não o fazer, uma mulher assim, era como um iman para os olhos. Nesse dia, o almoço correu-lhe nervoso, não conseguiu tirar os olhos dela que se movia de mesa para mesa com uma leveza quase ultrajante e um menear de ancas felino. Não, felino não, feminino, de fêmea. Que sabia exactamente o poder que tinha sobre os homens aquele movimento. Que faria ela ali? Um restaurante, mesmo que de luxo, não era para uma mulher assim, tinha demasiada classe para empregada de restaurante. 
Trocaram algumas banalidades enquanto ela o ia servindo, nada de transcendente. Quando pagou a conta, acrescentou uma gorjeta generosa - gesto raro nele, severo nas despesas como em tudo - e ao mesmo tempo, meteu-lhe um cartão pessoal no bolso do avental negro, e pediu-lhe baixinho que lhe telefonasse, ao que ela sorriu e respondeu:"Claro! Logo que possa". E ele admirou-se com a sua própria ousadia. 
Mas a verdade é que ela também se sentira atraída por ele quase desde o princípio, achara-o demasiado sério, mas ao mesmo tempo engraçara com o seu embaraço, com o seu ar de rapaz crescido. Gostara da sua elegância austera, e principalmente com o atrevimento final, nada esperado num homem daquele estilo. Depois..depois seguiram-se os telefonemas, as primeiras graças, a troca de confidências. Até que chegou a altura em que ele achou conveniente avançar e convidou-a para jantar. Escolheram o dia livre dela, e ambos sabiam já que o jantar não seria a última coisa que fariam. 
Jantar à beira-mar, comida excelente mas na qual mal tocaram, ambos demasiado ansiosos, em antecipação do que se seguiria. Meteram-se no Mercedes negro sem trocarem palavra e ele conduziu até ao hotel. "Tenho uma suite marcada. Sou X" Deram-lhe o cartão, depois de ele ter recusado a companhia do empregado "Eu sei o caminho. Mas mande-me o mais breve possível uma garrafa de Ruinart, por favor".
Chegados à suite, ele fechou a porta atrás de si, deixando-se ficar a olhá-la. Estava magnífica. Sentiu baterem à porta e sobressaltou-se. Era o empregado a entregar o champanhe. Deu-lhe uma nota, agradeceu e voltou a fechar a porta e semicerrou as luzes. Não resistiram mais, entregaram-se aos braços um do outro deixando-se cair na cama ampla. Ele beijava-a mas era da quem o conduzia pelos sítios que lhe davam mais prazer. 
Já estavam ligeiramente suados e ele começou a despi-la peça a peça, lentamente e ela submissa, facilitava-lhe os movimentos. Sentou-se na cama quando ele a beijou no pescoço ao mesmo tempo que lhe desapertava o soutien-gorge negro: as mamas, firmes, não se mexeram um milímetro. Ele estava cada vez mais enfeitiçado, e ao mesmo tempo sedento dela, que o abraçava e lhe acariciava as costas e a cabeça, enfiando-lhe os dedos finos entre os cabelos e o puxava a ela. 
Ficaram nus. Por um momento e como que numa decisão mútua e muda, mantiveram-se uns segundos quietos a olharem-se, a admirarem o corpo um do outro, como que num erótico encantamento. Depois recomeçaram as carícias, ele a beijar-lhe os seios e a barriga, arranhando-a suavemente no liso da barriga o que a fez soltar um gemido prolongado, aos mesmo tempo que lhe agarrava as nádegas rijas e o puxava a ela. Mas ele queria que ela "sofresse" e prolongava-se nas carícias e beijos. Nem um centímetro daquele magnífico corpo de mulher ficou sem ser acariciado, sem que a saliva dele humedecesse. E ela, generosa, entregava-se e retribuía-lhe as carícias. 
Até que não resistiram mais, e entraram um no outro, como se fossem um, e envolveram-se numa onda de paixão que os sacudiu como um furacão, o arfar dele e os gemidos dela como banda sonora do imenso desejo que os possuía, o prazer puramente animal, até se deixarem vencer pela natureza e pelo cansaço.
Estenderam-se novamente olhando-se. Ele serviu-lhe um champanhe, mas ela estava exausta. Quando ele se virou para lhe dar a flute, já ela dormia. Foi até à janela e olhou a cidade a dormir. Como ela. Que permanecia na mesma posição em que a deixara. Não se cansava de lhe admirar o corpo perfeito. Se o achara belo no restaurante, ali, nua, parecia uma visão, com o cabelo sedoso espalhado pela almofada, um sorriso de plenitude que lhe parecia bailar no rosto e tudo o resto, como que uma réplica da perfeição. Deitou-se e adormeceu rapidamente. 
De manhã quando acordou, depois daquela breve indecisão sobre onde estava, que aquele quarto lhe era desconhecido, lembrou-se da noite anterior, e estendeu um braço para o outro lado da cama, mas encontrou o vazio. Ergueu-se ligeiramente e chamou-a. Não recebeu resposta, mas vislumbrou em cima da cama, no lugar em que ela dormira, um envelope. Abriu-o e leu o escrito no verso do cartão que no primeiro dia em que a conhecera, lhe entregara: 
"Desculpa sair mais cedo, mas a única condição que o meu marido impôs para me tornar sua sócia no restaurante, foi a de que fosse todos os dias eu a ir ao mercado fazer as compras necessárias. Vemo-nos ao almoço. Espero. Um beijo. 
P.S. - Foste magnífico. Ninguém diria com o teu estilo tão pouco ousado"

9 comentários:

  1. Vic, outra vez a estas horas? Mau... assim uma pessoa não dorme descansada...

    Não resisti a um sorriso com a nota deixada por ela, está de génio. Muito bom, Vic.

    ps - a propósito do estilo pouco ousado: surpresas destas são sempre muito boas. Ou devem ser, não sei ;)

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  2. Ali pelo meio achei que ia aparecer um Arnaldo ihihih

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  3. "estilo tão pouco ousado"... e com esta me retiro :P
    hehehe

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  4. epá confesso que desejei que o envelope tivesse duas notas de 50€ (achei que era um bom final)...:)

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  5. Ele devia ter ficado apenas pelo peixe grelhado :)

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  6. Bem, desta vez, fui mais esperta. Quando cá cheguei, já era perto do meio dia, e vi o título e a imagem, fui-me logo embora.
    Contrariamente aos teus protagonistas, comi bem, até mais do que devia, só por causa das coisas.
    Já de estômago cheio (pelo menos isso) confesso que não fiquei muito surpreendida. Homem sovina que abre os cordelinhos à bolsa mal vê um rabo de saia, é um clássico do género masculino. Mulher insatisfeita com o marido que vê um bom partido, sabe muito bem como o deixar doido sem a mínima dificuldade. Outro clássico também.

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  7. Não gostei do final da primeira parte...vou esperar a segunda parte :p

    Beijinho :)

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  8. Pois, a ousadia às vezes paga-se cara! Lá perdeu ele o seu lugar cativo no restaurante, I presume! :)))

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  9. Caro vic,
    Já não é a primeira vez que me apanhas desprevenida.
    estes finais não acontecem, não podem acontecer...
    Uma descrição que me deixou presa em cada letra.
    Gostei dos detalhes onde está patente o dinheiro. Nem sabia dessa marca de fatos ou champanhe.
    Penso que terei de cá voltar outra vez, tanta coisa para aprender.
    Espero é não ser tão distraída, não ajuda nisto dos nomes.
    Continua! Eu serei uma leitora assídua.
    P.S. Já pensaste escrever um conto erótico ou romanceado?
    Gosto do fluir da tua pena (sem segundas intenções, 'please')!

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Eu leio todos com atenção. Mas pode não ser logo, porque sou uma pessoa muito ocupada a preencher tempos livres!